Psicólogo não dá receitas
- redepsicoterapias
- 6 de mai. de 2013
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É comum que pessoas procurem um psicólogo com a expectativa de obterem uma ajuda prática e imediata. Muitas vezes esperam que o profissional disponha de orientações e conselhos para a resolução dos seus problemas e se decepcionam quando saem da consulta sem nenhum receituário. Tal expectativa é compreensível, visto que estamos habituados a uma dinâmica diferente. A prescrição de medicamentos e procedimentos feitos pelo médico dá ao paciente certa segurança de que, caso ele siga o que foi orientado, logo estará curado. Mas no caso da psicologia, não é bem por aí. Funciona assim: o médico cuida do corpo (do orgânico) e o psicólogo da “mente” (da história de cada pessoa e de como ela lida com suas questões pessoais e relacionais). Claro que não é assim tão dividido. Hoje sabemos que tudo está interligado (o corpo e a mente). Dizemos que toda pessoa é um ser biopsicosocial (e é sob esta perspectiva que todo profissional da saúde realiza o seu trabalho). Deste modo, a causa de uma doença “do corpo” pode ser psicológica (são as doenças psicosomáticas) e, também o contrário, uma doença psicológica pode ter causas orgânicas (como o caso da bipolaridade, da esquizofrenia, da depressão e outras). Não podemos mais separar a mente do corpo. Somos um todo. Contudo, mesmo que o psicológico e o orgânico estejam interligados, o tratamento se dá de forma diferente. Enquanto as doenças orgânicas podem ser facilmente diagnosticadas, medicadas e tratadas, as doenças psicológicas são, muitas vezes, imensuráveis e difíceis de serem diagnosticadas. Muitos tratam a depressão, por exemplo, como uma “frescura”, preguiça e até malandragem, pois não há uma “prova”, um exame que certifique que aquela pessoa adoeceu e precisa ser tratada. Este preconceito e não aceitação surge também por parte do paciente. Mas como mensurar uma tristeza? Como localizar a saudade? E a angústia, o que é isso? A dor dá é no coração? Então deve ser caso de cardiologista, não? Como ter a certeza de que o sofrimento vai cessar ou de que os problemas irão se resolver se não há prescrições a seguir? Sim... Tudo isso é bem complicado. Por isso, o psicólogo e a pessoa que se disponibiliza à psicoterapia precisam abandonar a visão generalista (que é necessária e possível para a medicina) e encarar os dilemas da subjetividade. E para tentar amenizar estas questões, precisamos entender uma coisa: a psicologia não busca a cura, mas sim a qualidade de vida e o “sentir-se bem”. E cá entre nós, isso é muito relativo. O que é bom pra um, nem sempre é o melhor para outro. O que os pais querem, nem sempre é o melhor para o filho. O que a sociedade cobra, pode não ser essencial para você. O papel do psicólogo é incentivar a autonomia e a liberdade de ser, seja lá como for. É claro que essa liberdade deve respeitar o espaço do outro, a ética da sociedade e também o ambiente em que estamos inseridos. É como se diz, a liberdade de um termina quando começa a do outro. E que assim a vida seja mais leve e boa de ser vivida.
Camila Marques
Psicóloga
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