Porque acidentes de trânsito não são acidentes
- Camila Marques
- 18 de set. de 2015
- 3 min de leitura

Hoje inicio mais uma temporada como colunista da Rede Psicoterapias e vou abordar o tema Mobilidade e Convivência Urbana. Minha estreia caiu em uma data propícia, estamos iniciando o período denominado pelo DENATRAN como Semana Nacional do Trânsito. A Semana ocorre anualmente entre os dias 18 e 25 de setembro e tem como objetivo conscientizar a população e diminuir o número alarmante de pessoas que perdem a vida no trânsito.
Para se ter uma ideia sobre a nossa situação, o Seguro DPVAT registrou em 2014 52.200 indenizações por morte no trânsito e quase 600 mil por invalidez. Com estes números, ficamos no 4º lugar entre os países onde mais se perdem vidas no trânsito. Esta é uma questão séria, mas de tão corriqueira, vem passando como despercebida pela população.
Pessoas morrem no trânsito todos os dias e não é por acidente. Acidente, segundo o dicionário Michaelis, diz respeito ao que “é casual, fortuito, imprevisto”. É o que acontece com desastres naturais, os quais não podemos evitar. “Acidentes de trânsito” não acontecem de modo aleatório.

90% do que chamamos de “acidentes de trânsito” é causado por falhas do homem, 6% por problemas nas vias (buracos, má sinalização, pista escorregadia, etc) e 4% por falhas mecânicas. Ou seja, em todos os casos alguma das partes envolvidas poderia ter evitado o "acidente".
Então começamos por aí, com a substituição do termo. O termo “acidente” nos coloca como vítimas, não como protagonistas de nossas ações. O que chamamos ingenuamente de “acidentes de trânsito” são, na verdade, os efeitos ou as consequências das nossas atitudes imprudentes. Percebe a diferença?
E digo isso em relação a todas as pessoas envolvidas no trânsito. Existe ainda pouca percepção do que realmente é o trânsito. Trânsito é deslocamento, é ir e vir, independente do modo, do meio ou do lugar. Por exemplo, em uma escola, quando crianças saem da sala para se deslocarem até o pátio na hora do recreio, elas estão transitando. Caso ocorra uma queda neste caminho, temos uma consequência da desatenção, ou da correria.
A grande questão é que, na maioria das vezes, existem outros envolvidos nas consequências das nossas atitudes, sejam elas boas ou ruins. Milhares de pessoas perdem a vida no trânsito ou sofrem sequelas graves por consequências de atitudes imprudentes de outras pessoas. É difícil pensar em algo que fazemos, por mais pessoal que seja, que não repercuta na vida de outras pessoas. E é aí que mora a importância da nossa responsabilidade.
Na origem da palavra, responsabilidade vem do latim responsus, particípio passado de respondere (responder). RE, “de volta, para trás” e SPONDERE, “garantir, prometer”. Ou seja, a responsabilidade é o ato de responder ao outro com atitudes que possam garantir a sua integridade e os seus direitos. Contudo, a responsabilidade é um ato voluntário. Por mais que existam leis para que as pessoas atuem com mais responsabilidade no espaço público, é preciso que haja uma vontade, um desejo voluntário de ser responsável, que precede uma conscientização.
Desta forma, a responsabilidade está ligada ao limite entre a liberdade individual e a liberdade coletiva. Algo que só pode ser bem delimitado quando há uma consciência das reais consequências das próprias atitudes.
Por isto, temos aqui um encontro marcado às sextas-feiras para conversar sobre trânsito, mobilidade e convivência (de forma bem ampla!). Para, quem sabe, sermos mais responsáveis. Para que as consequências de nossas escolhas sejam as melhores possíveis. Para que nossas atitudes não soem com violência, mas com amor.
Um grande abraço e até a próxima!

Camila Marques é psicóloga pelo Centro Universitário Newton Paiva (2011); Formada em Psicossomática pela Faculdade de Medicina da UFMG (2012); É capacitada em Educação para o trânsito pelo DENATRAN e pelo DER/MG (2010). Escreve para a Rede Psicoterapias às sextas sobre o tema "Mobilidade e convivência urbana".
www.camilamarquespsicologa,com
Commentaires