A psicanálise não é empática: o que a psicologia pode aprender com isso?
- Inayá Weijenborg
- 19 de set. de 2015
- 3 min de leitura

Existem várias definições de empatia e similares (simpatia e compaixão, por exemplo), mas todas elas concordam que empatia tem a ver com colocar-se no lugar do outro, sentir o que outro está sentindo, viver o que o outro está vivendo. A empatia é uma habilidade importante no convívio social, mas ela possui seus limites porque é um conceito puramente ilusório e imaginário de achar que se sabe o que o outro está sentindo, ou achar que está “no lugar do outro” numa postura notavelmente delirante.
A psicanálise não é empática porque a posição do analista não é de um sujeito que compreende e sabe tudo o que o paciente diz, mas é de se colocar no lugar de falta e de negatividade para ser capaz de ouvir aquilo que o paciente diz e ele mesmo não consegue escutar. É esse tipo de escuta que ouve as incongruências e faltas que significa acolher a demanda; ou seja, o verdadeiro acolhimento é feito colocando-se em posição de quem é marcado por uma falta e não em posição de quem responde de igual para igual. É necessária uma diferença, um buraco, caso contrário a pulsão não circula, a demanda não se move.
Existem certas práticas na psicanálise – como na psicanálise com autismo – que definem que o analista deve saber quando encarnar um sujeito, um alguém que acha que sabe o que o outro está querendo como forma de apostar nesse outro. No entanto, mesmo achando que sabe o que é, o analista não pode nunca realmente acreditar que sabe. Em momentos em que a criança em estado autista não exerce função de sujeito e se comporta como um objeto, não adianta colocar-se como objeto também porque nada vai acontecer, mas no momento em que a criança foi convocada pelo chamado e pela aposta investida nela, o analista deve saber se retirar como sujeito para dar espaço a essa criança.
O que isso quer dizer? Que achar que está no lugar do outro é puro achismo, porque nada no mundo garante que aquilo que alguém acha que é o que o outro está sentindo é, de fato, o que esse segundo está sentindo. Isso pode, inclusive, soar como prepotência por achar que a resposta para a questão de alguém está dentro de você, e não dentro do outro. E o que a psicologia pode aprender com isso?
Apesar das diferentes epistemologias (teorias sobre o conhecimento) da psicologia, uma coisa é consenso entre os psicólogos: a escuta. A escuta da psicologia é diferente de outros profissionais, e todos devemos saber que essa escuta psicológica é livre de preconceitos, julgamentos e achismos. É justamente nesse ponto que considerar trabalhar fora da égide da empatia é importante, já que o que parece empatia pode poluir nossos ouvidos com coisas que não são do paciente.
Apesar de o analista não ser empático, não significa que a empatia deve ser jogada de lado; no cotidiano as pessoas devem, sim, tentar imaginar o que o outro está sentindo, mesmo que isso seja ilusório. A psicanálise não dá conta de tudo, e não tem como conceber uma vida só com analistas. A psicanálise não é para todo mundo o tempo todo, o que quer dizer que ela não cabe em todo lugar e a qualquer hora. Ela possibilita o verdadeiro acolhimento, mas esse acolhimento não pode ser feito sem critério, já que não é todo mundo que está disposto sempre a ouvir sobre si mesmo. Para a clínica psicanalítica acontecer, deve haver uma demanda e um sofrimento, caso contrário, ela pode parecer uma prática violenta.
Esse cálculo do que deve ser falado e quando deve ser falado depende da formação do analista, o que inclui passar por análise e saber diferenciar o que é seu e o que é do outro. Essa diferenciação é essencial para que a psicologia não exerça uma prática arrogante.
Inayá AW
SP, 15 de setembro de 2015

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