Para que (e quem) a Orientação Profissional se destina?
- redepsicoterapias
- 15 de mai. de 2013
- 3 min de leitura
Em meu primeiro texto aqui no site, abordei alguns aspectos que a escolha profissional implica em nossas vidas, questões essas que se iniciam quando ainda somos pequenos. Também citei como um serviço de Orientação Profissional (OP) contribui para se pensar a relação entre homem e sua vida profissional, explicitando o objetivo da OP como sendo o de orientar o sujeito a realizar escolhas autônomas sobre seu projeto de carreira, considerando seu contexto, suas potencialidades, desejos e expectativas, a fim de que se torne autônomo e crítico na construção da sua própria existência. O que, por sua vez, culminaria na elaboração de um projeto de vida que propicie a realização humana em seus variados aspectos.
Porém, de que forma, efetivamente, a OP atua? A quem ela se destina? Caso eu apresente dúvidas quanto ao meu curso profissional atual, ou precise assumir um cargo de liderança, ou esteja na iminência de me aposentar, e não sei como lidar com as possíveis mudanças desses e outros contextos profissionais, a quem devo solicitar ajuda? Qual a amplitude de atuação da Orientação Profissional?
Muitas vezes a OP é definida no imaginário dos indivíduos como um serviço voltado prioritariamente para um público em fase de escolha profissional. Adolescentes em dúvida, famílias preocupadas com filhos que não conseguem escolher, jovens adultos na iminência da entrada na universidade. Pensa-se em um atendimento individualizado, que se utiliza de certos instrumentos (geralmente testes) para definir características pessoais e correspondê-las a perfis profissionais. Acredita-se que, ao passar pelo atendimento de OP, o sujeito estará com uma opção definida quanto a sua carreira. Porém, essa concepção nem sempre corresponde à estrutura e aos objetivos da atuação em OP.
Por muito tempo, essa modalidade de atendimento em OP (a qual se aproxima consideravelmente do modelo clínico) predominou nos serviços ofertados. Porém, a OP estende-se além dessa demanda e do objetivo de definição de uma profissão, que, apesar de serem os focos predominantes na OP, têm cedido espaço para outras modalidades de atendimento. Isso se deve, principalmente, as novas configurações do mercado de trabalho, além de valores e relações (re) significados pelos sujeitos no que confere ao trabalho e o impacto desse em diversos aspetos da vida. Assim, para atender essas novas demandas, surgem novos cursos de formação, pesquisas variadas a nova estrutura do mercado de trabalho; inserção da OP em outros ambientes além do consultório psicológico (empresas, ONGS, escolas, etc.).
Um exemplo da extensão do alcance da OP atualmente é o espaço e a valorização que os cursos de mentoring e coaching têm adquirido. A procura por essa forma de capacitação profissional tem atraído à atenção de diversos profissionais, não somente psicólogos, mas também administradores, relações públicas, etc. Esse interesse deve-se, em grande parte, a uma nova configuração no mercado de trabalho através da valorização e capacitação de líderes, percepção das vantagens e aumento na preferência pelo recrutamento interno, identificação da associação entre desenvolvimento profissional e pessoal a fim de proporcionar a maior eficiência no trabalho, entre outros aspectos que focam o desenvolvimento das potencialidades do sujeito para a elaboração de um projeto de carreira. É a isso que o coaching (de carreira, pessoal, etc.) e o metoring se destinam em linhas gerais. Ou seja, possuem muitas características semelhantes a um serviço de OP exercido por psicólogos. Diferem, entretanto, na medida em que o coaching e o mentoring não utilizam técnicas psicológicas e baseiam-se em aspectos práticos da carreira, como passos para ascensão a novos cargos, habilidades para tornar a prática profissional mais efetiva, etc. Já um psicólogo em serviço de OP também abordará questões quanto a autoconhecimento, relações interpessoais, valores, etc. associados ao contexto do trabalho, objetivando não só metas profissionais, mas também a avaliação do impacto que essas ocasionam na vida do indivíduo como um todo.
Por outro lado, novas oportunidades estão sendo exploradas no campo da OP. Programas para recém-aposentados e consultoria para líderes e cargos de gerência já possuem experiências relatadas na literatura. Novas demandas como alunos ingressos e recém-formados em universidades, orientação para pais que encaram a ida do filho para a universidade em outra cidade, até mesmo para alunos do ensino médio, que, devido às modalidades diversas que esse curso tem apresentado (técnico, pré-vestibular, normal, etc.) também se veem na dúvida quanto ao seu futuro profissional, são áreas ainda a serem desbravadas pela OP.
O que a OP se propõem, portanto, é, onde houver a tríade homem-escolha-trabalho e suas implicações, esse campo de atuação se inserirá de forma a contribuir com seus saberes e técnicas para que o sujeito adquira habilidades e conhecimentos que o possibilite organizar seu rumo profissional em diferentes momentos e quando considerar necessário, não de forma fixa e delimitada, mas adequada ao seu contexto e a suas características, desejos e expectativas. Assim, muitos campos e modalidades de atuação da OP são possíveis, considerando os anseios humanos em relação ao trabalho e as constantes transformações do indivíduo e das formas desse produzir sua existência.
Juliete Alves
Psicóloga
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