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Morte na Velhice

  • Foto do escritor: redepsicoterapias
    redepsicoterapias
  • 6 de jan. de 2014
  • 3 min de leitura

“Devemos estar preparados antes para a morte do que para a vida. A vida é suficientemente fecunda, mas nós estamos sempre ávidos de meios para viver e nos parece que sempre falta alguma coisa. Não os anos nem os dias, mas o espírito é que nos diz se vivemos o suficiente.”

Sêneca – Aprendendo a viver


Ao que tudo indica, o medo da morte aumenta à medida que se envelhece, pois também aumenta a probabilidade de morrer. No entanto, não é um medo menor nos jovens e maior nos velhos, ele está muito mais relacionado à forma com que se vive, às crenças e às coisas que se valoriza no mundo do que aos anos vividos. “Quanto melhor você vive, menos você teme a morte.”, diz a psicóloga Rachel Rosenberg. A satisfação com a própria vida, as atividades de que participa e as realizações passadas e presentes são fatores, ao que parece, de diminuição do medo da morte


Outra questão relacionada ao medo da morte é a espiritual. O ser humano tem necessidades espirituais que precisam ser incluídas nas dimensões humanas. Perceber-se pertencente a algo maior, reconhecendo-se dentro do universo e tendo uma satisfatória busca espiritual, é um importante fator para o melhor enfrentamento da morte. Vemos, assim, que o medo da morte provavelmente independe da idade.


No Ocidente, em geral, a morte é mais bem aceita na velhice, já que, biologicamente, é nessa idade que há maior probabilidade de que ocorra, e o que assusta mais os idosos, em geral, não é a morte em si, mas da perda de saúde e da dependência. O velho vivencia muitas mortes; físicas, sociais, psicológicas e outras simbólicas.


As primeiras perdas são das pessoas: das que morrem, das que se afastaram, das que deixaram saudades. Daí entende-se que a solidão é um sentimento bastante comum nessa idade.


Há também a perda do funcionamento pleno do organismo, que já necessita do apoio de inúmeros recursos para a realização de tarefas antes consideradas relativamente simples. Funções “automáticas” do corpo humano perdem eficiência.


Dessa perda, decorre a redução da independência e da autonomia, a capacidade de autocuidado. Muitas vezes, quem convive com o idoso não lhe permite exercitar as funções que ainda possui, realizando no lugar dele tarefas nas quais poderia ajudá-lo, dando-lhe oportunidade para manter determinadas habilidades. É mais rápido e prático fazer as coisas pelo velho; porém, para ele, pode muitas vezes se sentir humilhado, dependente e infantilizado.


A passagem dos anos também afeta a aparência e o vigor, levando o velho que se aferrou fortemente à beleza e juventude durante a vida a possuir vergonha e dificuldades.


As boas lembranças que possui ficaram no passado, e são poucos os que param por um momento, na correria do cotidiano, para ouvir as suas histórias fantásticas. Raros são os que têm paciência para ouvir repeti-los reiteradamente essas histórias com a escuta atenta, sem demonstrar tédio ou pressa. Muitas vezes, esta e uma escuta trabalhosa, além de confrontadora da própria finitude.


Diante de tantas perdas, o velho mal se reconhece. Que corpo é esse, desconhecido, tão diferente daquele de que fazia uso na juventude, que lhe servia quando necessitasse? Que dores são essas que não esperava, que não desejava, que lhe invadiram o corpo sem aviso? Que morte é essa de que tem medo, que já não é tão terrível diante das tantas pequenas mortes que sofreu ao longo da sua vida? De quem é a vida, afinal?


“De quem é a vida, afinal?”, título da obra de Ingrid Esslinger (2004), parece ser uma importante questão. Talvez devesse ser feita em todas as fases da vida, e imprescindivelmente, nessa importante fase que obrigatoriamente antecede a morte, a velhice.


Quem sabe se possa dar um significado novo e mais reflexivo à velhice, que já não dependa mais tanto das faculdades físicas que ainda se possua, mas de tudo que se construiu ao longo do trajeto da vida, único e especial em cada ser humano:


“Mas o após meio-dia da vida não pode ser apenas um apêndice da manhã. Assim como o sol recolhe seus raios para iluminar a si mesmo, também a pessoa idosa deve ir para dentro de si mesma, voltar-se para seu eu e descobrir a riqueza do seu próprio íntimo. (...) Quem já na juventude não vive realmente, também não será capaz de fazê-lo na velhice, pois fica muita coisa não vivida para trás.” (Grün, 2008)



*Este texto é um trecho do Trabalho de Conclusão de curso de Denise C. Machado para obtenção do grau de Psicólogo na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). O título do trabalho é “PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA DE IDOSOS: LIDANDO COM A MORTE NO COTIDIANO”.


**Denise Machado é psicóloga formada pela Universidade Federal de São Paulo. É colunista da Rede Psicoterapias, onde aborda temas relacionados à psicologia do trabalho e o trabalho com o idoso, às segundas-feiras.


 
 
 

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