Aprendendo a não aprender
- redepsicoterapias
- 22 de jan. de 2014
- 3 min de leitura
Olá, leitores. Hoje vamos tratar sobre desamparo aprendido, já ouviram falar? Todos, invariavelmente, já passamos por maus momentos. Quando atravessamos situações ruins, fazemos tudo o que podemos para escapar, concordam? Bem, se concordaram, talvez mudem de ideia ao final deste artigo.
Na década de 60, o psicólogo americano Martin Seligman tentou expandir a pesquisa de Pavlov - o cara que podia fazer os cães salivarem quando ouviam uma campainha. Porém, em vez de oferecer comida após a campainha, Seligman tratava os animais com choques elétricos. Durante essa parte do experimento, o cão ficava preso e, ao soar do sinal, tomava um curto e intenso choque. Depois de condicionado, o cão era levado para uma grande caixa, mas ficava solto, limitado apenas por uma pequena cerca. Seligman imaginou que, ao ouvir a campainha, o cão rapidamente pularia para escapar. Pois é, mas não era isso que acontecia. O cão ficava ali, sentava e se preparava para o choque. Essa reação intrigou o pesquisador, que resolveu colocar na caixa um cão que nunca levara um choque antes. Na primeira tentativa de choque, o cão pulou a cerca. Por que o mesmo não ficou? Por que o outro não pulou também?
Por falar em cães, não sei a idade de vocês, mas acredito que a maioria conheça o desenho do Snoopy, certo? Sabiam que o personagem principal é o triste garotinho chamado Charlie Brown e não o simpático cãozinho? Charlie Brown é como o cão do experimento de Seligman. Conforme suas frustrações eram repetidas (esportes, relacionamentos, etc), foi adotando uma visão pessimista e aprendeu que não adiantava tentar reagir, pois o todo o universo conspirava contra ele. Eis o chamado "desamparo aprendido", sendo o mesmo fenômeno que se passa com os cães que levaram choques.
A teoria do "desamparo aprendido" pressupõe que os sujeitos assimilam a falta de controle dos estímulos aversivos e defende a generalização desse comportamento para novas situações de interação desses indivíduos com o meio. Por isso, os cães de Seligman não fugiam. Por isso, a única reação de Charlie Brown era suspirar e lamentar. Caso, durante o curso de suas vidas, vocês tenham passado por derrotas significativas, abusos, perdas de controle e afins, acabam convencendo gradualmente a si mesmos de que não há escapatória e, pior, mesmo que ela seja oferecida, não irão agir! Pode parecer absurdo, mas acreditem, tem muito mais gente por aí "acostumada a aceitar a dor" do que vocês imaginam.
Uma das principais teorias sobre como surgiu esse tipo de comportamento defende que o mesmo é fruto do desejo que todos nós temos de economizar recursos. Se vocês acham que não conseguem escapar de uma fonte de estresse, tal pensamento leva a mais estresse, sendo essa retroalimentação responsável por desencadear uma paralisação quase que automática. Em casos mais graves, vocês acham que se continuarem lutando podem morrer e que desistindo e ficando quietinhos a coisa ruim pode passar. Situação complicada, né? Porém, nem tudo está perdido.
Todos os dias nos deparamos com forças que sentimos não poder controlar, como emprego, faculdade, governo, economia, aquecimento global... aí o que vocês fazem? Realizam suas microrrevoltas. Pintam o quarto com uma nova cor, mudam os móveis de lugar, personalizam o toque do celular, vocês escolhem. Ter poder de escolha, mesmo que pequeno, ajuda a lutar contra o "desamparo aprendido", pois vocês lembram que sempre há como mudar as coisas. Quando se é capaz de ser bem-sucedido em tarefas pequenas, sentimo-nos capazes de realizar as maiores.
Lutar contra o comportamento pessimista, bem como concretizar as micromudanças, é essencial, mas nem sempre basta. Em muitos casos, a ajuda de um bom psicólogo é fundamental para sair desse "poço sem fundo" (que pode evoluir para uma depressão grave).
Vocês não são super humanos, não são invulneráveis, ninguém é. Lembrem que os fracassos e quedas fazem parte da vida e que sem isso não há crescimento. Pensem positivo, não desistam ainda. Sejam mais espertos do que os cães do Seligman e se esforcem para não aprender tudo o que a vida tenta ensinar. Até a próxima!
Luiz Medeiros é carioca e está se graduando em Psicologia pela IBMR - Laureate International Universities. Admirador de tudo que envolve o ser humano e seus mistérios, escreverá às quartas sobre curiosidades da psicologia, do comportamento e das neurociências. Tudo em linguagem fácil e com pitadas de humor.E-mail: luizrjbrasil@gmail.com
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