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Reflexões sobre a cotidianidade

  • Foto do escritor: redepsicoterapias
    redepsicoterapias
  • 23 de jan. de 2014
  • 2 min de leitura

Em um mundo de constantes avanços tecnológicos, inclusive na área médica, observa-se um crescente investimento na medicalização dos mais diversos transtornos, bem como das mais variadas manifestações cotidianas do ser humano. O cenário contemporâneo rejeita cada dia mais a tristeza, ao mesmo tempo em que há um maior número de pessoas acometidas e diagnosticadas pelas chamadas depressões. Como compreender este paradoxo?

A lógica de funcionamento social hodierno exige que o sujeito dê conta de todas as ofertas de mercado, vivendo em meio à velocidade e ao bombardeio de informações. Esta lógica ainda aponta que a ordem é a felicidade e que tudo está ao alcance do sujeito, e que, para conquistar seus objetivos, basta ser ele mesmo e se esforçar para tal. Esta aposta na individualização, que acaba por gerar exatamente a massificação, faz recair a culpa no sujeito por não conseguir desfrutar da abundância das ofertas. A rapidez e a possibilidade de substituição de objetos são tão intensas que as experiências passam a ser reduzidas enquanto puras vivências. Ou seja, os fatos do dia-a-dia mal podem ser elaborados, pois o sujeito não tem tempo para simbolizar o que ocorre com ele.


Esse processo pode ser observado nos sintomas do sujeito contemporâneo. Pensando ainda na lógica explicitada, as manifestações de tristeza não são mais permitidas, em uma sociedade que prega a alegria e a beleza. Operando neste sentido, a medicalização surge enquanto aplacadora de angústias, pílulas mágicas que permitem ao sujeito livrar-se da sensação que causa estranhamento pelo ritmo diário que sua vida demanda: trabalho, serviços domésticos, filhos, contas a pagar, lazer etc. A conseqüência deste ritmo acelerado é a dificuldade do sujeito enodar suas manifestações à sua história, reduzindo-o a puras disfunções neurobiológicas: o sujeito está desanimado ou triste, porque lhe falta serotonina. Que lugar sobra para sua implicação em relação ao seu sofrimento?

Interessante observar que a lei da felicidade está exposta por todos os lados. Nas redes sociais, por exemplo, o sujeito se vê implicado a dar depoimento de todos os eventos de sua vida, mostrando como seus dias são felizes. Quando foi que ter dias ruins deixou de ser normal?

Caro leitor, tudo bem você acordar feio e com mau hálito ou seus dias não terem acontecimentos incríveis a todo o tempo. Tudo bem sua viagem não ser tão maravilhosa, ou seu relacionamento ter problemas. Você não precisa compartilhar tudo o que acontece com você e os eventos do seu dia não precisam ser curtidos para que se confirme que ocorreram. É evidente que o olhar do outro é fundamental e constitutivo, mas nossa existência independe do excesso do olhar, de sua constância.

Parece que atualmente falta tempo para elaborar todas essas indagações, por isso convido o leitor a criar momentos de reflexão e de crítica ao que o sistema impõe em nossos dias; às exigências do nosso cotidiano; aos excessos da vida contemporânea.

*Andressa Neves Psicóloga e Psicanalista. Escreve para a Rede Psicoterapias às quintas-feiras sobre psicopatologias e contemporaneidade.


Contato: andressaneves@live.com

 
 
 

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