A águia e a galinha: comodismo x consciência
- redepsicoterapias
- 24 de jan. de 2014
- 3 min de leitura
Os seres humanos e suas relações: é sobre essa magia que irei ponderar. E, afinal, a que me refiro? A animais; uma espécie chamada Homo sapiens, sobre a pessoa, sobre o indivíduo, sobre comportamento, sobre pensamento, sobre o ser biopsicossocioespiritual? Nas psicologias, o discurso dá-se sob várias facetas. Entretanto, todas as falas referenciam ao mesmo objeto de estudo: o Ser Humano.
Estudado por vários ângulos, suas partes formam um Ser Humano completo e o Todo é repleto de complexidade. Pode-se iniciar percebendo como o filósofo Sartre a nós se referiu: “Somos o que fazemos do que fizeram de nós” [1]. Confesso-lhes que é minha frase preferida dentro da psicologia.
Dentre vários aspectos, deparamo-nos com as escolhas, as escolhas de ser de cada Ser Humano. E é sobre essa escolha que trabalharemos. Hoje, será através de uma metáfora: a águia e a galinha. De pronto recomendo a leitura, pois um breve relato desta não os demonstra toda emoção que transborda nas palavras do autor.
"A Águia e a Galinha" é uma metáfora da condição humana através da história de uma águia que, tendo sido capturada por um camponês, era criada junto às galinhas. Com o passar dos anos, ela se acostuma a essa condição e adquire hábitos de galinha. De tal forma, presume ser uma galinha de verdade, até que aparece um naturalista e a faz enxergar quem ela realmente é. Mediante esta consciência, permite-se ser quem realmente é e alça seu voo magistral.[2]
Percebem-se dois caminhos, duas dimensões fundamentais que confrontam a existência humana: a dimensão simbolizada pela galinha, que alude ao enraizamento do Homem, ao cotidiano habitual, ao prosaico, corriqueiro, limitado. Dito isso, temos a noção de finitude, através do comodismo como a morte em vida. A dimensão do símbolo da águia versa sobre a abertura, a flexibilidade, o desejo, o poético, o ilimitado, permitindo o entendimento das possibilidades de Ser.
O Ser Humano é único em sua magnitude. Mas, como ir ao encontro do “caminho do meio”, como encontrar o tão falado equilíbrio? Tal reflexão que lhes proponho faz menção às escolhas que cada um hospeda dentro de si: ser águia ou ser galinha?
Sartre também nos diz que a liberdade dá ao homem o poder de escolha, mas está sujeita às limitações do próprio homem. A autonomia de escolha é limitada pelas circunstâncias, mas são elas que tornam a liberdade possível. Portanto, o Ser Humano depara-se com sua autodeterminação através das escolhas que pratica.[3]
Meu fascínio com a psicologia está nas provocações que nos são feitas e nas reflexões que são-nos proporcionadas. O projeto infinito e íntimo da busca de ser deve ser a direção do vôo, o portar o “leme”, ser protagonista das escolhas que são feitas na vida, de tal forma que se rompa os limites existenciais. Na metáfora, a águia fora limitada a ser galinha. Entretanto, ao ir ao encontro de si mesma, rompeu este limite que lhe foi imposto. Tal postura fez com que alçasse vôo.
Percebo que há um aspecto social que pretende reduzir-nos a simples galinhas, confinadas à pequenez dos limites do terreiro. Entretanto, ainda no ano que passou, vimos movimentos sociais como na educação, na arte, na política, nas ruas do Brasil e do mundo. Episódios esses que apreenderam o enredo da nossa História, sugerindo novos caminhos, mostrando outras direções e projetando um sonho social promissor. Ou seja, buscando novas perspectivas. Portanto, como diz Leonardo Boff, cada um hospeda dentro de si uma águia. E eu acrescento que cabe a cada um de nós acreditar que é possível ser águias. Aí reside a esperança de mudança.
Raíssa Jacintho, psicóloga pela Universidade FUMEC, pós-graduanda em Trabalho Social com Famílias e Comunidades pela Faculdade Redentor (RJ). Fez o Curso de Introdução a Terapia Cognitivo-Comportamental pela UFMG e de Terapia por Contingências de Reforçamento pelo NTCR–BH. A área de atuação é TCC em seu consultório particular e em outras instituições como AOMEC. É colunista da Rede Psicoterapias onde escreve as quintas-feiras, sobre Psicologia através dos mitos. Tem como hobbie a filosofia como modo de viver.
[1] SARTRE, J. P. O Ser e o Nada. Editora Vozes.
[2] BOFF, Leonardo. A águia e a galinha. Editora Vozes.
[3] SARTRE, J. P. O Ser e o Nada. Editora Vozes.
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