top of page

O incompreendido é quem menos compreende

  • Foto do escritor: redepsicoterapias
    redepsicoterapias
  • 27 de jan. de 2014
  • 3 min de leitura

Todo mundo tem um pouco de baixa autoestima, e toda baixa autoestima se sente um pouco incompreendida. As razões para tanto devem ser buscadas ainda no início da vida. Quando crianças, nossa sobrevivência física depende do cuidado dos outros. E quando a dependência se torna consciente, além de física ela se revela afetiva. Na verdade, nossa carência afetiva é despertada simultaneamente à dependência física. Não é exagero afirmar que toda consciência é consciência da falta, e que toda falta é carência afetiva. Assim, o primeiro ato da consciência logo após o nascimento é o despertar da carência, a carência por outras pessoas. Dependemos dos outros, por isso carecemos deles. Carecemos dos outros por acreditarmos que eles podem nos completar, e aquilo que nos completa precisa ser completo em si mesmo. Assim, desde muito cedo formamos a idéia de que as outras pessoas são completas, e que sua completude é o que nos falta para sermos completos também. As pessoas que nos rodeiam se transformam em nosso ideal de completude. Perto delas, estamos em desvantagem: Enquanto falta alguma coisa em nós, nelas nada falta. Essa condição idealizada de inferioridade é a base da baixa autoestima que existe em todos nós, mesmo nos mais seguros de si. Na baixa autoestima, idealizamos o outro como o detentor de algo essencial que nos falta. O outro é mais do que nós. Na prática, porém, a baixa autoestima se manifesta na crença de que somos e sentimos muita coisa que esse outro idealizado e completo não é e não sente. Mergulhados em nossa baixa autoestima, acreditamos pensar e sentir um tanto de coisa que somente nós próprios sentimos e pensamos. É como se, na nossa incompletude, fôssemos indivíduos únicos e originais, diferentes de todos os outros. É a megalomania da baixa autoestima. A baixa autoestima nos faz crer que, rodeado por pessoas completas e perfeitas, a incompletude nos torna únicos e originais, conferindo à nossa imperfeição um valor substancialmente maior que o da perfeição tão comum e tão trivial que enxergamos por todos os lados. A megalomania da baixa autoestima tem um alto preço. Se acreditamos pensar e sentir um tanto de coisa que somente nós pensamos e sentimos, também acreditamos não ser possível a ninguém compreender o que se passa em nossa mente e em nosso coração. Mergulhamos na solidão dos incompreendidos. A sensação de não ser compreendido por ninguém é característica dessa megalomania tão inferiorizada. Entretanto, só nos sentimos incompreendidos por idealizarmos os outros como completos e perfeitos, já que a perfeição jamais compreenderia a imperfeição. Mas, é evidente que ninguém é perfeito e completo e que essa idealização não compreende o que os outros realmente são. Os outros são semelhantes a nós. Os pensamentos que passam pela nossa mente e os sentimentos que habitam nosso coração não diferem essencialmente do que os outros também pensam e sentem. Reprovamos nossos pensamentos e desgostamos de nossos sentimentos por acreditarmos que eles são diferentes de tudo que os outros pensam e sentem; são eles morbidamente diferentes, patologicamente originais e autênticos. Bastaria uma gota de compreensão sobre a semelhança que existe entre o que nós e os outros pensamos e sentimos para que esse julgamento tão pejorativo fosse suspenso e substituído pelo alívio da isenção de culpa. Se não compreendemos a semelhança que existe entre nós e os outros, além de não compreendermos os outros também não compreendemos a nós mesmos. Pois, se não compreendemos os outros, como compreenderíamos a nós, que somos tão parecidos com eles? A compreensão de si é conseqüência direta da compreensão sobre os outros, e vice-versa. Por essa razão, mesmo quando vencemos a vergonha, a culpa e nos esforçamos por falar de nós com os outros, não encontramos as palavras certas. E não seria mesmo possível encontrá-las a menos que soubéssemos do que estamos falando! Mas, não sabemos! Aquele que se sente incompreendido é quem menos se compreende. Ele não compreende nem a si e nem aos outros, e por isso não sabe como se fazer compreensível a ninguém. O incompreendido é quem menos compreende, e o primeiro passo para mudar isso é acabar com a vaidade megalomaníaca que enxerga nessa “incompreensibilidade” o sinal de uma personalidade autêntica e original. Autêntica e original é a pessoa que compreende a si mesma, não a que vaga às cegas pelos meandros de seu próprio eu.

*Daniel Grandinetti é psicólogo de influência existencial e psicanalítica. Atua na clínica há 12 anos. Tem a graduação e o mestrado em Filosofia e atualmente é doutorando, também em Filosofia, pela UFMG. Escreve para a Rede Psicoterapias às segundas sobre psicologia e cotidiano.

 
 
 

Comments


Siga-nos
  • Facebook Classic
  • Twitter Classic
  • Google Classic

Vamos continuar este contato? Assine a nossa newsletter!

Agora você faz parte da nossa Rede!

Consultório sede:

Rua Joviano Naves, 15 - sala 04. | Belo Horizonte /MG

 

Nossos contatos:

(031) 4141-6838

(031) 4141-6839

redepsicoterapias@gmail.com

Nos acompanhe:

  • Wix Facebook page
  • Instagram Social Icon
  • Wix Twitter page
  • Wix Google+ page
  • LinkedIn Social Icon

©Copyright 2011 Rede Psicoterapias. Todos os direitos reservados.

bottom of page