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Jogo de Cena

  • Foto do escritor: redepsicoterapias
    redepsicoterapias
  • 11 de fev. de 2014
  • 2 min de leitura

A morte do cineasta Eduardo Coutinho, no último dia 2, rendeu muitos lamentos, homenagens, análises de filmes e especiais na TV. Mas, sobretudo, muitas reportagens policias sobre o caso do filho esquizofrênico que matou o pai têm tomado conta dos jornais.

Os documentários de Coutinho mostram o que há de extraordinário em meio ao trivial, falam da vida de pessoas anônimas, contam histórias por elas mesmas e reais como elas mesmas. Longe do gênero policial, a morte do cineasta pode se encaixar também e tão bem no gênero dos documentários.

“Jogo de Cena”, filme de Coutinho de 2007, mostra algumas mulheres contando histórias de suas vidas. A esses depoimentos são mesclados relatos de atrizes. Na maior parte do tempo, não sabemos quem é atriz e quem não é, e quando sabemos (exemplo, Marília Pêra e Fernanda Torres), a dúvida fica diante do relato. Será que a atriz conta algo de sua vida pessoal, ou será que interpreta uma história?


Este jogo de cena, entre realidade e ficção, parece se encaixar à história que vai sendo revelada pela mídia sobre a morte de Eduardo Coutinho. Além do parricídio, que por si só já seria suficiente para dar ares de ficção à vida cotidiana, o assassino da história é diagnosticado com esquizofrenia. Nesta doença - caracterizada principalmente por delírios e alucinações acompanhados de uma certeza absoluta de que tais pensamentos e sensações são reais - a consciência do paciente fica a mercê do inconsciente.

Desta forma, a pessoa em surto age e se posiciona no mundo de acordo com uma lógica que não faz parte da realidade compartilhada. A olhos externos parecem atitudes fictícias, atuações de um roteiro que fala de uma vida que não a daqui. Mas o roteiro escrito pelo inconsciente de uma pessoa acaba, muitas vezes, sendo atuado num palco que é cenário para outros tantos inconscientes e conscientes.

Na esquizofrenia o jogo de cena não é entre a realidade e a ficção no sentido teatral dos termos, mas entre o conhecido, o compartilhado, o social, a consciência com limites, pudores e certas percepções, e o desconhecido, o estranho idioma incompreendido por quase todo mundo, o inconsciente sem a linearidade egóica, sem os filtros da consciência e, portanto, com outras tantas percepções. Percepções, estas, que normalmente não se pautam apenas pela doença. Isto é, no caso em questão, é praticamente impossível afirmar que o filho matou o pai devido a sua esquizofrenia, ainda que a forma e a justificativa do assassinato sejam psicóticas.

Planejadamente, a vida invade a vida entremeada por uma câmera de cinema. Planejadamente, a vida assiste a vida entremeada por um tela de cinema. Planejadamente, a vida fala sobre a vida. Mas, sem planos, de repente, a vida pode ser engolida por um imenso inconsciente, sem ser entremeada por nada e muito provavelmente sem ser compreendida por ninguém.


*Luisa Rosenberg é psicóloga clínica junguiana, graduada em 2011 pela PUC-SP. Aos sábados, escreve sobre as coisas do cotidiano; “crônicas psicológicas” falando, muitas vezes, sobre as artes para tentar falar da vida.

E-mail: luisarosenbergcolonnese@gmail.com

 
 
 

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