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Sexualidades

  • Foto do escritor: redepsicoterapias
    redepsicoterapias
  • 23 de fev. de 2014
  • 3 min de leitura

Em sua teoria conhecida como o Complexo de Édipo, Freud afirmou que nosso primeiro objeto de amor é a mãe. Mais tarde, Lacan veio dizer que não se tratava apenas de um ser, mas de uma função, a função materna, a qual seria responsável por responder às necessidades e criar demandas no pequeno bebê, ou seja, inserí-lo no mundo simbólico da linguagem. Nada fácil exercer esta função, chamada por Lacan também de função de grande Outro. Por diferenciar a pessoa da função, Lacan abriu um leque de possibilidades: qualquer um poderia exercer a função materna, não necessariamente uma mãe ou uma mulher.


Tomaremos aqui o exemplo clássico: a mãe. Sendo assim, para a menina, seu primeiro objeto de amor é alguém do mesmo sexo, ou seja, é homossexual. Para o menino, resta a difícil tarefa de confrontar-se logo cedo com uma figura que encarna o que é ser mãe e o que é ser mulher (lembrando que não se trata da mesma coisa) e mais tarde identificar-se com o ser homem, através do amor ao pai. Para não entrar nos detalhes do Complexo de Édipo e suas variações nas leituras freudiana e lacaniana, resumimos: ao final, meninos e meninas abrem mão de serem objetos de amor do papai e da mamãe para terem os seus próprios objetos de amor, geralmente estes contendo traços resultantes das identificações com os primeiros. O menino, castrado, parte em busca de uma companheira com traços que remetam a sua mãe, enquanto a menina reconcilia-se com a castração da mãe e parte em busca de um companheiro que contenha traços de sua identificação com o ser amado de sua mãe: seu pai. Bom, geralmente é este o desenrolar da novela. Geralmente.


Eis que, nos caminhos da vida, o objeto amado encontrado é do mesmo sexo, e desenvolvem-se relações homossexuais. A lógica, em psicanálise, é a mesma: como você saiu do seu Édipo e que identificações estabeleceu vão determinar o tipo de objeto amoroso a ser escolhido, bem como a posição, posto que, em psicanálise, para além do determinismo do corpo que nos denomina enquanto homens e mulheres, falamos em posição masculina e feminina, pois é esta que entra em jogo quando o romance familiar acaba e somos lançados ao mundo com nossa sexualidade e a missão de lidar com esta.


Eis que entra em cena também o horror. Inicialmente, a não aceitação desta sexualidade, tida ainda há pouco tempo em manuais como o DSM como “desviante”, “perversa”; tida pelas instituições religiosas como “antinatural, contra os princípios da reprodução humana, dos desígnios de Deus para homens e mulheres”. O que significa para a sociedade, para a instituição família, ser homossexual? Sabemos, desde Freud, que os filhos são a forma como provamos o doce sabor da eternidade. São também os depositários dos sonhos mais profundos, dos desejos não realizados, do narcisismo remanescente da constituição singular de cada um. Mas, o que ser homossexual afeta tudo isso? Se, como constatou Freud e Lacan, temos vivências homossexuais desde sempre, pois nos constituímos enquanto bissexuais, perversos polimorfos, para somente depois, ao fim do Édipo, termos de fato escolhido nossas posições?


Homens se amam, mulheres se amam, a sociedade está aprendendo a conviver com estes que, por tanto tempo, permaneceram às margens, vivendo vidas duplas, fortes preconceitos, violência. Em tempos modernos, ou hipermodernos, como dizem, é estranho pensar que, tendo em vista tantas teorias, como a psicanálise, por exemplo, para ajudar a balizar nossas concepções, estejamos cada vez mais agarrados ao narcisismo das pequenas diferenças, ao ódio do diferente, da alteridade, ainda disseminando preconceitos e tanta violência. Ainda é o outro, este outro quase desmaterializado, fluidificado, incorpóreo, mas portador das projeções de todo o horror que habita cada um. O inferno ainda são os outros, sábio Sartre...


Heterossexuais ou homossexuais, são sempre os mesmos dilemas, pois somos todos humanos, afetados pelo efeito da linguagem em nosso corpo que diz de nossa sexualidade. E estes somos nós, tentando dar conta do que é ser homem, ser mulher, e desse tal que todo mundo fala: o amor.






* Psicóloga e Psicanalista, Diretora e Supervisora da Clínica Espaço Savoir y Faire, especialista em Semiótica psicanalítica – Clínica da Cultura pela PUC-SP, mestranda em Psicologia Clínica pela USP. Realiza pesquisas no campo das psicoses e outros transtornos graves do desenvolvimento. Escreve artigos utilizando a Semiótica Psicanalítica enquanto instrumento de leitura dos fenômenos sociais e culturais. Colunista da Rede Psicoterapias ao domingos onde escreve sobre Psicologia, filosofia e arte.


Contato: gualda.lorene@gmail.com

 
 
 

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