A lógica da insatisfação
- redepsicoterapias
- 13 de mar. de 2014
- 2 min de leitura
Cada vez mais é possível observar o aumento das adições, seja por alimentos, roupas, eletrônicos e afins. Por que estas compulsões estão em foco? O que está acontecendo com o sujeito contemporâneo? Será que isto tem algo a ver com a sociedade pós-moderna ou é algo inerente ao ser humano?
Relembrando Freud e Lacan, sabemos que o resultado da passagem pelo complexo de Édipo é a falta. Somos marcados pela perda e, como consequência, passamos o resto de nossa existência buscando encontrar o objeto perdido. Que objeto é esse?
Para trazer a questão para uma situação palpável, cabe ao leitor pensar em sua própria realidade. Você já comprou alguma coisa que, com certeza, faria-lhe feliz e algum tempo depois percebeu que não era tão perfeito assim? Percebeu que existia uma oferta ainda melhor? Uma nova mercadoria que lhe traria satisfação plena? No geral somos marcados pelo desejo e pela ilusão de que determinado objeto irá nos satisfazer, mas quando aquele objeto é conquistado, percebemos que não era exatamente aquilo que estávamos procurando. Uma constante insatisfação. Por quê?
Como dito anteriormente, passamos a vida a procura do objeto perdido. Perdido, não mais alcançável, ao menos não aos neuróticos, marcados pela castração. Interessante que a lógica capitalista compreende o psiquismo muito bem, investindo na oferta de objetos de desejo que prometem obliterar a falta do sujeito. Exatamente pela alta rotatividade de ofertas de bens de consumo, a ilusão de que este buraco pode ser tapado funciona de maneira tão eficaz. Tão eficaz que inventa e reinventa mecanismos para que o sujeito acredite na plenitude. Para contribuir com o gozo, ou com a tentativa de gozar, surgem, por exemplo, os cartões de crédito, que permitem que o sujeito "goze" e não perceba o preço pago por isso. Dinheiro imaginário, que sustenta a ilusão de que todas as ofertas estão ao alcance, que atua na lógica do "goze agora e sempre".
Pensando nisso, chega-se a um impasse. Afinal, se o sujeito é marcado pela falta e nada que ele faça irá tamponar o vazio que sente, para que continuar tentando?
Simplesmente porque é essa tentativa que move o sujeito, é desejo, é pulsão de vida. É o que permite os lampejos de felicidade que temos ao longo de nossa existência. Plenitude, não, mas uma vida de encontro com os nossos desejos é possível. É esta a direção de uma análise: a promoção deste belo encontro.
*Andressa Neves é Psicóloga, Psicanalista. Especialista em Teoria Psicanalítica e Diretora da Clínica Espaço Savoir y Faire. Escreve para a Rede Psicoterapias às quintas-feiras sobre psicopatologias e contemporaneidade.
Contato: andressaneves@live.com
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