Se queres viver, prepara-te para morrer

Hoje decidi abordar um tema que traz certo incômodo para quem lê. É, eu bem sei que esse tipo de assunto não é o preferido pelos leitores. Mas, também sei que é uma reflexão absurdamente importante e relevante para discussão. Falar sobre nossa condição humana, temporária e passageira nos gera angústia e desconforto, e não poderia ser diferente, não é verdade?! Mas me acompanhe nessa pequena reflexão que pode te ajudar a encarar sua vida e seus problemas sob uma nova perspectiva.

Uma das poucas certezas que possuímos na nossa vida é que um dia morreremos. Como, quando e onde, apenas Deus sabe. Mas, se você parar para pensar, verá que se tivermos a consciência que a vida é efêmera e passageira, teremos muito mais qualidade de vida. Porque?! Porque uma vez que entendemos que tudo é transitório e momentâneo, passamos a valorizar mais as coisas simples da vida, valorizar mais as pessoas que amamos e a gastar nosso tempo com aquilo que realmente nos faz feliz!

Certa vez, Freud disse a seguinte frase: Se queres viver, prepara-te para morrer! Essa afirmação nos diz exatamente sobre essa tomada de consciência que temos que ter sobre nossa condição humana. Quando temos esse novo olhar, a vida se torna mais leve. Sim, mais leve! Você deve estar se questionando como a vida pode se tornar mais leve, tendo eu a consciência que posso morrer a qualquer instante, de qualquer modo?! Como pode ser mais leve se eu não sei o tempo que me resta?! Como pode ser mais leve se eu não tenho o controle do tempo e da vida?! E eu te respondo querido leitor. A vida se torna mais leve porque passamos a valorizá-la mais, muito mais! Passamos a valorizar pequenos momentos e gestos, que outrora não valorizávamos. Passamos a encarar nossos problemas de forma mais serena, porque sabemos que são apenas problemas, e sendo apenas problemas, são passageiros, são solucionáveis (mesmo os que parecem ser insuperáveis – sempre haverá uma saída, uma solução!). Aprendemos a dar o valor certo as coisas. Ou seja, dar o valor certo aos problemas, aos obstáculos, ás conquistas, ás vitórias, ás pessoas, ao trabalho, aos sonhos, á família…

Aqueles que perderam alguém que amavam muito, talvez tenham mais claramente essa consciência da nossa vulnerabilidade. Quando nos deparamos com a morte de um ente querido essa consciência vem de forma avassaladora! Ficamos muito mais sensíveis, introspectivos, reflexivos. Passamos a ver e encarar o mundo, as pessoas e as situaçoes de outra maneira. Você já deve ter escutado inúmeras histórias onde as pessoas relatam sobre como tiveram suas vidas transformadas após a luta contra uma doença ou a morte de uma pessoa amada…

Querido leitor, pare por um instante e reflita comigo.. Muitas vezes, levamos nossa vida de forma tão desenfreada. São tantas obrigações, tanta correria! Tantas metas á serem cumpridas, tantos planos á serem realizados, tantos sonhos para serem concretizados.. Pare! Pare por um instante! Respire fundo e entenda que é preciso desacelerar para conseguir chegar vivo e com qualidade até ao final do percurso. Precisamos viver o hoje com serenidade, desfrutando a vida com intensidade, prazer, alegria, gozo, esperança!

Como ervas do campo, estamos sujeitos a tudo. Acho que você já entendeu bem essa parte.. Portanto, meu querido leitor, dedique seu tempo, seu amor, sua energia, suas forças fazendo aquilo que é verdadeiramente bom! Ocupe seu tempo e seus pensamentos com coisas que realmente valham a pena e lhe tragam bem estar! Elogie mais, ame mais, ria mais, curta mais, sorria mais, abrace mais, se declare mais.. Aproveite, com intensidade, a presença daqueles que você ama!! Para que quando chegar o grande dia da separação (morte), você olhe para trás e tenha orgulho da história que viveu, das alegrias que desfrutou e das experiências simples, pequenas, imensas e absurdas que vivenciou! Lembre-se, só temos o dia de hoje, portanto, seja e faça o seu melhor a cada dia!

*Flávia Rates - Psicóloga Clínica, tem como abordagem teórica a Psicanálise. Trabalha com famílias, casais, crianças, psicoterapia em grupo e individual. Atua de forma especial com as mulheres no período de gestação, parto e puerpério, dando suporte emocional e psíquico nesse importante momento da vida. É idealizadora e fundadora do "Super Mães", um grupo que tem como objetivo trazer informações, pesquisas e muita emoção relacionado ao universo infantil e a todo âmbito familiar. Escreve às sextas, como colunista na Rede Psicoterapias, sobre família, maternidade, pais e filhos, e reflexões acerca da existência.

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