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Cuidado com o que desejas... Seus sonhos podem se tornar realidade

  • Foto do escritor: redepsicoterapias
    redepsicoterapias
  • 17 de mar. de 2014
  • 4 min de leitura

Algumas noivas, após o tão esperado dia de seu casamento, só conseguem se recordar de poucos detalhes da cerimônia e da recepção. Elas sabem que se casaram, sabem que estiveram presentes, e até sabem que tudo foi maravilhoso, mas não se recordam de quase nada do que aconteceu. No entanto, elas ainda são capazes de se lembrar das fantasias e dos sonhos que nutriram, durante tanto tempo, sobre como seria aquele dia quando ele finalmente chegasse. Em geral, essas noivas passaram toda a vida sonhando com essa ocasião e fantasiando todos os seus detalhes.


Durante todo o percurso de suas vidas até o tão sonhado dia, suas fantasias evoluíram e assumiram muitas formas. Uma ocasião assim tão sonhada e tantas vezes fantasiada adquire, para a maioria delas, um significado vital. E quando o significado de um evento ainda não ocorrido se torna vital, é preciso ou que ele realize plenamente seu significado quando ocorrer ou então que não ocorra de jeito nenhum. Se não for para realizar seu significado, é preferível que ele permaneça real apenas como uma fantasia a povoar os nossos sonhos.


É perfeitamente possível que um evento sonhado com antecipação se realize exatamente da forma como o fantasiamos. Por que isso não seria possível? É improvável que isso aconteça, mas não há como dizer que seja impossível. Porém, mesmo que tudo ocorra exatamente da forma como antecipamos, nem assim o significado da fantasia se realizaria. Pois o significado de qualquer fantasia é apenas um: dar um sentido ao presente; é dar ao presente um sentido que aponte para o futuro. Em nossas fantasias, nutrimos a crença de que o futuro nos reserva algo maravilhoso. E essa crença direcionada ao futuro se torna o sentido do presente. Assim, quando nossos sonhos se realizam, ainda que a experiência seja maravilhosa, ela nos deixa um vazio. A experiência foi maravilhosa, mas ela destruiu o sonho. O prêmio que esperávamos receber no futuro se tornou presente, e sua presentificação não nos deixou mais nada para esperar. O presente, mesmo maravilhoso, se parece vazio quando nos habituamos a preenchê-lo com as expectativas do que ainda não veio a ser presente.


Uma fantasia pode se tornar um objeto fixo em nossa imaginação; um objeto fixo que, apesar de projetado no futuro, é fantasiado no presente. Ele está aqui e agora, presente em fantasia, embora ausente da realidade. Quando fantasiado, somos nós que o animamos, e ele nos pertence plenamente. E ao nos pertencer plenamente, ele torna pleno o presente que deixamos de viver para fantasiá-lo. A fantasia realizada, por sua vez, foge ao nosso controle. Ela é encenada por atores reais ao invés de personagens imaginários, e deixa de ser um objeto fixado na permanente projeção do futuro para se tornar impalpável, perecível e “passável” como tudo que se faz presente. A fantasia, uma vez realizada, passa. E ao passar, ela nos deixa de frente com o vazio que sempre preencheu nosso presente e que agora não podemos mais negar.


A noiva que não consegue se recordar do próprio casamento é capaz de se lembrar das suas fantasias; ela se lembra da fantasia mas não se lembra do evento que a realizou. Assim, é como se a fantasia não tivesse jamais se realizado. Ela continua se lembrando da fantasia como fantasia, não como algo que se tornou real. É como se tudo tivesse sido... um sonho! Racionalmente, ela sabe que a fantasia se realizou. Mas, nossa mente nunca deu muita importância ao que julgamos saber racionalmente. Para a noiva, aquela experiência foi como um sonho e, na condição de sonho, ela pode continuar a sonhá-lo para, inconscientemente (ou não), permanecer na espera de que ele se realize no futuro... com outra pessoa, talvez.


Já o caso da mãe que sofre de depressão pós-parto é diferente. A fantasia realizada (a criança) está presente, e exige a atenção integral dela! Não há espaço para continuar sonhando. A realização da fantasia, nesse caso, destrói o sonho. E a mente, impossibilitada de encontrar soluções alternativas semelhantes às da noivinha esquecida, ao se ver sem saída cai em depressão. E como será que se comportaria toda essa gente de índole revolucionária caso a sociedade de seus sonhos se tornasse realidade? Essas pessoas, que se acostumaram a preencher seus pensamentos com os ideais da revolução, que passaram dias e noites animados trocando idéias sobre o mundo dos sonhos com outros revolucionários e que não conseguem suportar a sociedade e o mundo reais sem o consolo da crença de que a mudança é possível... será que dariam conta de viver no mundo de seus sonhos caso ele se tornasse real? Creio que não.


A sabedoria popular diz para tomarmos cuidado com o que desejamos, pois nossos sonhos podem se tornar realidade. Eu diria que o problema não são os sonhos se tornarem realidade. A realização de um sonho só se torna problemática quando ele adquire para nós um significado vital. Sonhos românticos, sociais ou religiosos podem nos deixar sem saída: Se por um lado não podemos deixar de sonhá-los e esperar que eles se realizem, por outro não podemos suportar sua realização. Ainda que a experiência de ter um sonho realizado nos pareça maravilhosa, certos sintomas subseqüentes, como a amnésia das noivas e a depressão pós-parto, mostram o quanto a experiência foi de fato insuportável. E como dizer às pessoas, numa cultura como a nossa que romantiza e valoriza os sonhos ao extremo, que para viver elas precisam deixar de sonhar?



*Daniel Grandinetti é psicólogo de influência existencial e psicanalítica. Atua na clínica há 12 anos. Tem a graduação e o mestrado em Filosofia e atualmente é doutorando, também em Filosofia, pela UFMG. É ensaísta e publica seus textos na página 'Psicologia no Cotidiano' do Facebook: www.facebook.com/cotidianoepsicologia

 
 
 

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