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Tirando a raiva do forno

  • Foto do escritor: redepsicoterapias
    redepsicoterapias
  • 19 de mar. de 2014
  • 3 min de leitura

Olá, queridos leitores. Hoje falaremos sobre a relação entre catarse e raiva. Todos nós sempre ouvimos que extravasar a raiva é uma maneira eficaz de reduzir o estresse. Entretanto, a verdade é que descarregar só faz aumentar o seu comportamento agressivo com o tempo.


"Grite num travesseiro", "Quebre alguma coisa", "Ponha pra fora"... quem nunca ouviu, pelo menos, alguma variante desses conselhos num momento de ira? O discurso é quase sempre baseado em "se você ficar guardando essa raiva, ela crescerá e te consumirá por dentro, fazendo-lhe ferver até explodir em cólera por todos os lados". Vá para a academia e desconte tudo no saco de pancadas. Dê alguns tiros naquele jogo de guerra do seu vídeo game preferido. Pegue uma daquelas bolinhas de apertar e trabalhe isso com as mãos. E aí, sente-se melhor? Provavelmente sim. Então extravasar a raiva é bom, né? A curto prazo, sim, a longo prazo, não. Então, de onde vem isso?


O conceito de catarse deriva do grego "kathairein", que significa "purificar e limpar". Liberar a tensão contida já era algo falado por Aristóteles e a busca por equilibrar as emoções e humores (fossem esses melancólicos ou coléricos) era a base da medicina de Hipócrates, em que a forma com a qual você equilibrava quase sempre dizia respeito a drenar algo. Vomitar quando se está passando mal, faz bem. Liberar as tensões sexuais também. De alguma forma a ideia é sempre a mesma: libere o que há de ruim e você ficará melhor. Parece razoável, não? Você pode até olhar para trás e lembrar das vezes em que ficou louco de raiva e descontar lhe fez bem. Só que as coisas não são bem assim.


No início da década de 90, a maioria dos livros de autoajuda falava sobre raiva, sendo o conselho principal sempre extravasar de alguma forma. O psicólogo americano Brad Bushman, da Universidade de Iowa, sentiu que isso poderia ser um péssimo conselho e decidiu estudar se descarregar a raiva realmente funcionava.


Em um experimento, Bushman solicitou que alguns universitários lhe escrevessem textos. Tais escritos seriam supostamente analisados por um de seus próprios colegas estudantes, mas era mentira. Ao devolver os textos, Bushman escolheu elogiar uma metade e criticar duramente a outra. Aos estudantes da parte que recebeu críticas, deu a opção de escolherem uma atividade qualquer para fazer, estando, entre elas, a opção de descontar a raiva num saco de pancadas. No final, os estudantes que escolheram usar o saco de pancadas estavam mais bravos e agressivos do que aqueles que escolheram atividades brandas. Quer saber como o psicólogo americano chegou a essa conclusão? Foi simples: Bushman deu a todos a oportunidade de vingança contra quem os avaliou negativamente. Os que escolheram o saco de pancadas eram de 3 a 4 vezes mais punitivos do que os que realizaram outras atividades. Dessa forma, a raiva não foi descarregada no saco de pancadas, mas sim, sustentada por ele.


Se você acredita que catarse é bom, é bem provável que faça uso dela quando estiver nervoso. A sensação de alívio momentâneo que aquela ação de explodir proporciona não lhe faz ficar menos bravo. Muito pelo contrário, incentiva-lhe a continuar tendo ações cada vez mais agressivas para descarregar. São tantos circuitos cerebrais e reforçadores comportamentais envolvidos nisso, que acaba por parecer a ação de uma droga. Se você se acostuma a ser explosivo, torna-se dependente disso.


O que fazer então quando o taxista bater no seu carro ou o cachorro da vizinha urinar no seu portão? Atrase sua resposta. O mesmo estudo americano verificou que os estudantes que esperavam cerca de dois minutos antes de contra-atacar o objeto da sua raiva tinham o ímpeto de agressividade reduzidos. Distração por meio de atividades totalmente incompatíveis com violência também funciona. Acalmar-se não significa não fazer nada com sua raiva.


Quando sentir que a ira está começando a tomar conta de você, pise no freio. Pare, respire, conte até 10, mude o foco. Descarregar instantaneamente não vai fazer a energia negativa dissipar, mas vai lhe fazer muito bem na hora. Esse é o perigo. A catarse, nesse caso, coloca-o num ciclo emocional viciante e quase infinito, transformando-lhe em uma pessoa agressiva e impaciente. Não deixe que o calor do momento turve sua visão. Tire sua raiva do forno e espere um pouco. Vai passar.



*Luiz Medeiros é carioca e está se graduando em Psicologia pela IBMR - Laureate International Universities. Admirador de tudo que envolve o ser humano e seus mistérios, escreverá às quartas sobre curiosidades da psicologia, do comportamento e das neurociências. Tudo em linguagem fácil e com pitadas de humor.


E-mail: luizrjbrasil@gmail.com

 
 
 

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