Reflexões sobre a práxis do psicólogo nas políticas públicas de saúde
- redepsicoterapias
- 23 de mar. de 2014
- 2 min de leitura
Tenho ouvido muito a respeito de saúde. Também temos falado muito sobre o assunto: discussões, eventos, projetos, planejamentos. Temos problemas, os quais advêm de longa data, questões cruciais, direitos básicos que ainda não se tornaram conquistas. Com o advento do SUS, pela primeira vez sistematizamos o que queremos no campo da saúde, e também descrevemos os caminhos para chegar lá. O SUS é recente, suas primeiras diretrizes datam da Constituição de 1988. Ou seja, temos aproximadamente 25 anos de Sistema Único de Saúde e grandes inovações em termos de assistência básica e de saúde: UBS, CAPS, NASF, etc; multidisciplinaridade, gestão compartilhada e descentralizada, participação ativa da comunidade na gestão. Belas palavras, belas leis, belos artigos.
Formei-me em 2008, agora há pouco, praticamente. Confesso que quase nada sabia sobre políticas públicas, assistência social e direitos humanos até 2012, quando fui contratada para trabalhar com adolescentes em tratamento para drogadição.
Não posso descrever aqui, mas este trabalho operou mudanças profundas em mim enquanto pessoa e enquanto profissional. Poderia longamente discorrer como estas experiências nos marcam, ou como o mundo é diferente fora dos muros gigantescos (e quase sufocantes, por vezes) da academia, ou como ainda caminhamos a passos de bebê no que concerne à justiça igualitária, garantia de direitos, assistência básica, educação e saúde.
Como neste espaço cabem apenas indagações, não respostas e nem discussões demasiadamente longas, deixo pontuações: a academia me ensinou pouco sobre o SUS (mais de 25 anos depois). Quase nada. Mas apesar disso, sei que o Sistema ainda parece um sonho longínquo perto das salas apertadas e lotadas dos CAPS, da carência de profissionais frente à cada vez mais gigantesca demanda, longas filas de espera. Muitos profissionais ainda não sabem o que fazem, para onde ir. Incluo aqui nós, psicólogos. Sem dúvida, há uma falha enorme em nossa formação, a qual nos deixa sem respaldo para atuar segundo as diretrizes do SUS. Temos dificuldades básicas ainda como, por exemplo, explicar a uma equipe ou à comunidade em geral o que fazemos. O que fazemos, afinal? Ainda inspiramos medo naqueles ao nosso redor, ocupando o lugar de mestres, donos dos poderes da mente? Apagamos incêndio, quando ninguém quer por a mão no fogo? Fazemos a equipe “se entender” e “render melhor no trabalho”? Sentamos e fazemos dobraduras de papel?
Mais essencial, acredito, é saber por que fazemos. Saber falar, respaldar seus atos em uma teoria, abandonar “achismos”, senso-comum. Devemos fazer análise/psicoterapia, cuidar de nossa própria saúde mental, fato este que colegas ainda não dão a devida importância. O lugar que ocupamos em uma equipe de saúde/assistência social, sem dúvidas, não é fácil. Cabe a nós, portanto, acredito eu, sempre a pergunta: afinal, o que eu fazemos?
* Psicóloga e Psicanalista, Diretora e Supervisora da Clínica Espaço Savoir y Faire, especialista em Semiótica psicanalítica – Clínica da Cultura pela PUC-SP, mestranda em Psicologia Clínica pela USP. Realiza pesquisas no campo das psicoses e outros transtornos graves do desenvolvimento. Escreve artigos utilizando a Semiótica Psicanalítica enquanto instrumento de leitura dos fenômenos sociais e culturais. Colunista da Rede Psicoterapias ao domingos onde escreve sobre Psicologia, filosofia e arte.
Contato: gualda.lorene@gmail.com
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