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A doença e a família

  • Foto do escritor: redepsicoterapias
    redepsicoterapias
  • 26 de mar. de 2014
  • 3 min de leitura

Uma das situações de crise mais abordadas pelo trabalho terapêutico é quando um dos membros da família fica doente, principalmente no caso de crianças. Os pais procuram o psicólogo na tentativa de auxiliar na recuperação nos trazendo questões angustiantes, como: por que com o meu filho? Para variar, não temos respostas prontas. Nosso trabalho será ouvir essa família em específico e suas dinâmicas, para compreender o processo de adoecimento nesse caso.

O que é comum é que a família será sempre mediadora entre o individual e o social, e principal criadora e alvo das questões mais diversas das crianças. Tais perguntas nem sempre aparecem de forma objetiva, mas cifradas no discurso, pensamento e brincadeiras infantis. Questões como: “Quem sou eu nessa família? O que esperam de mim? Como vim ao mundo?” são de difícil resposta, e campo fértil para criação de fantasmas nas crianças quando não encontram escuta ou resposta, visto que esta criança depende do adulto para apreender o que é o mundo.

Famílias que vivem conflitos mais expressos, em que os papéis são confusos, em que existe violência, a falta de algo que explique as relações tornam as coisas difíceis para alguém que está estruturando sua compreensão de tudo. É o típico caso da mãe que chora e é observada pela criança, que a questiona sobre o porquê das lágrimas. No susto e no medo de envolver os pequenos naquilo que “é coisa de adulto” vem a resposta “não é nada”. Como não é nada? A criança sabe que o choro vem do machucado, da dor. Abrem-se então as portas da imaginação: “os adultos choram a toa? Fiz algo errado? É minha culpa? O que está acontecendo” são exemplos observados.

Dizemos que os não-ditos familiares são situações em que prefere-se calar a dizer a verdade, muitas vezes considerada conflituosa e difícil para ser expressada naturalmente. Não somente aquilo que se cala, mas também as pequenas mentiras cotidianas sobre como as coisas são. Entenda por fala também os gestos e atitudes, que tomam forma de linguagem expressiva, mesmo não usando palavras.

Na falta de algo que explique o fato, a criança por si escolhe uma teoria que dê conta de suas questões, nem sempre conscientemente. Esse mesmo caminho ocorre na fala espontânea da criança que não é ouvida. O que o adulto não quer escutar de sua criança? Ou o que não se sente capaz de explicar e prefere calar ou mentir? Muitas vezes o que acontece é o aparecimento de um sintoma como forma de expressar os não-ditos, uma fala que não tem espaço nessa família. Para nós, isso vem como um enigma a ser decifrado.

O sintoma expresso de modo individual acaba sendo sintoma da família. A criança é determinada por aquilo que significa para os pais, suas expectativas antes do nascimento, seus desejos, e pelo lugar que tem hoje nessa família. É importante pensar: qual o sentido desse sintoma não somente para aquele que está doente, mas para todos? Que papel tem aquele que ficou doente? De que modo a estrutura familiar se abalou a partir da doença ou do afastamento do membro familiar que se ausentou ou ficou de algum modo incapaz de ocupar o papel que ocupava antes?

É importante compreender também de que modo essa família se estrutura em torno do doente e como viveria se este não ocupasse mais essa posição, se estivesse sem a doença. Quem seria o “mais frágil”, detentor do cuidado? Este que adoeceu seria o mais forte? Não estaria na doença ocupando uma posição nova de “ser cuidado” e que não saberia viver de outro modo? Não são questões impostas no processo terapêutico, mas importantes para refletir, entre muitas outras.

Nisso se funda o trabalho do psicólogo nesses casos: “decifrar” o que está por trás do sintoma. Trazer a escuta para um ambiente onde isso não era sentido de forma clara antes, fazer transbordar os conflitos existentes e abrir o espaço para que a criança e sua família possam falar de si, das relações que os tomam, seus medos, angústias. Em nenhum momento negamos a realidade da doença, e sim tentamos compreender além do que está posto, visto que verbalizar sobre uma situação difícil permite que se dê um novo sentido ao que estão vivendo.

*Sabrina Lima é estudante de psicologia pela PUC-SP, é colunista da Rede Psicoterapias, onde escreve às quartas-feiras sobre cotidiano e contextos de crise em clínica ampliada. Além da Psicologia, é amante de música e das palavras, e atualmente se dedica ao estudo da escrita e suas formas de expressão como recurso terapêutico.

E-mail: slima.psi@outlook.com

 
 
 

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