Amor
- redepsicoterapias
- 28 de mar. de 2014
- 4 min de leitura
E o que é amor? Percebo na história de Jesus o legado do Amor. No entanto, este tema predispôs o ímpeto de várias pessoas à busca de seu entendimento. Afinal, não é somente Jesus quem fala do amor.
É difícil ter clareza do seu significado. Vários filósofos versaram sobre este tema, como Shakespeare no célebre Romeu e Julieta, como Platão no ilustre Banquete, como Fernando Pessoa e Carlos Drummond em seus magníficos poemas, assim como Jean Jacques Roussoeau e Friedrich Nietzsche em suas obras e também tantos outros.
O amor pode ser entendido como uma emoção; como um sentimento profundo; uma expressão afetiva complexa; como uma expressão através de comportamentos em relação ao outro; pode ser um padrão de pensamentos altruístas; pode ser uma forma de se posicionar no mundo; o amor pode ser entendido como divino, como amor ao uno, a espiritualidade; até mesmo pode ser entendido por alguns como uma maldição. Afinal, cada ser tem sua percepção particular.
Se bem recordam, o primeiro mito que apresentei foi o mito de Psiquê. O enfoque empregado foi sobre a importância da psicologia na vida das pessoas. É possível perceber também neste mito o amor, por meio da relação de Eros e Psiquê. O mito de hoje será da mãe de Eros, Afrodite:
"Em suas várias versões, Afrodite ganha o nome do lugar em que nasceu. Na ilha de Chipre, foi chamada de "Cípria", já na ilha de Citera recebeu o nome de "Citereia". Afrodite nasceu quando Urano (pai dos titãs) foi castrado por seu filho Cronos, que atirou seus testículos ao mar, então o sêmen de Urano caiu sobre o mar e formou ondas chamadas de aphros, e desse fenomeno nasceu Aphroditê (espuma do mar), que foi levada por Zéfiro para Chipre. Em outra versão seria filha de Zeus e Dione, sendo chamada em alguns momentos de “Dios”. Em outra versão Afrodite seria filha de Zeus com Talassa (Deusa do Mar).
Após destronar Cronos, Zeus ficou ressentido com o grande poder sedutor de Afrodite que desprezava todos os deuses e como vingança e punição fê-la casar com Hefesto. Afrodite ganhou um cinturão mágico que fazia com que ninguém resistisse a seus encantos. Os diversos filhos de Afrodite mostram seu domínio sobre as mais diversas faces do amor e da paixão humana.
No final do século V a.C., os filósofos passaram a considerar Afrodite como duas deusas distintas, não individualizando seu culto: uma Afrodite Urânia, nascida da espuma do mar após Cronos castrar seu pai Urano, e outra Afrodite Pandemos (ou Pandemia), a Afrodite comum "de todos os povos", nascida de Zeus e Dione.
Entre os neo-platónicos e, eventualmente, seus intérpretes cristãos, a Afrodite Urânia é vista como uma Afrodite celeste, representando o amor de corpo e alma, enquanto a Afrodite Pandemos está associada com o amor puramente físico. A representação da Afrodite Urânia, com um pé descansando sobre uma tartaruga, mais tarde foi tida como a descrição emblemática do amor conjugal.
Assim, de acordo com o personagem Pausânias, no Banquete de Platão, Afrodite seria duas deusas, uma mais velha a outra mais jovem. A mais velha, Urânia, é a "celeste" filha de Urano, e inspira o amor/Eros homossexual masculino (e, mais especificamente, os efebos). A jovem é chamada Pandemos, é a filha de Zeus e Dione, e dela emana todo o amor às mulheres. Pandemos é a Afrodite comum. O discurso de Pausânias distingue duas manifestações de Afrodite, representadas pelas duas histórias: Afrodite Urânia (Afrodite "celestial"), e Afrodite Pandemos (Afrodite "Comum")."
Para além da busca do entendimento do que é o amor, está à busca em senti-lo e vivenciá-lo. Está aí a percepção de uma falta sentida pelo Ser Humano, que resulta em uma busca incessante por algo que o supra. Contudo, esse Ser não reflete que cada um oferece apenas o que possui em si mesmo. Então como ser amado? E como amar?
O amor, ainda que representado pelas duas formas de Afrodite, tornou-se tão vulgar que ficou diminuído. Há uma carência de consciência da conduta de amar. Pode-se perceber que uma forma de Afrodite é a Paixão e sua outra forma é o Amor sublime. Amar é um verbo que por si só já é a ação. Todos os seres humanos têm uma necessidade de completude, a qual pode ser suprida pelo amor. O amor é um poder latente do Homem. E, primeiramente deve-se amar a si mesmo para que seja possível compreender o amor e amar o outro.
Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), abordagem da Psicologia na qual trabalho atualmente, percebe-se que “Reconhecer uma mudança de humor é uma maneira poderosa de mostrar aos pacientes o impacto do modo de pensar automático sobre seus sentimentos”1. Dessa forma, para a TCC os pensamentos influenciam os comportamentos e as emoções. Então ter a consciência de seus sentimentos é um processo deveras importante em todos os âmbitos da vida dos sujeitos, no caso falamos sobre o amor.
Portanto, amar a si mesmo é um dos pequenos mistérios humanos. Para que isso seja viável, as pessoas devem enfrentar suas tormentas interiores. Não há fórmula, mas ao mesmo tempo não é um enigma. Cada ser deve encontrar o seu caminho. O caminho de amar está no trato de coração com coração, no relacionar-se com o outro, na inter-relação. O simbolismo de Afrodite reflete na valorização e a conscientização de sentimentos baseados nas virtudes.
1. Beck AT: Cognitive therapy and research: a 25-year retrospective. Paper presented at the World Congress of Cognitive Therapy, Oxford, England, June 28-July 2, 1989.
* Raíssa Jacintho é psicóloga pela Universidade FUMEC e pós-graduanda em Trabalho Social com Famílias e Comunidades pela Faculdade Redentor (RJ). Sua área de atuação é a Terapia Cognitiva Comportamental em seu consultório particular. É colunista da Rede Psicoterapias, onde escreve as quintas-feiras, sobre a Psicologia através dos mitos.
Contato: rarajacintho@hotmail.com
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