Encontros futuros
- redepsicoterapias
- 28 de mar. de 2014
- 2 min de leitura
Às vezes parece que as pessoas andam na rua procurando alguma coisa. É freqüente procurarmos um canal na TV, um livro na estante, um problema qualquer. Mas talvez seja mais comum, ou pelo menos mais poética, a busca pelo amor.
Quem nunca ouviu em conversas de bar alguém reclamando por não ter encontrado um amor? Quem nunca viu um filme com uma moça tentando se apaixonar? Quem, afinal, às vezes não anda pela rua a procurar... procurar qualquer coisa e, por ventura, poder encontrar ali, num canto qualquer, um amor?
Talvez se procurarmos um com nome, sobrenome, endereço, foto 3x4, papel passado e presente, a gente nunca encontre. Este, provavelmente, vai ser um sempre a gente, nunca um outro para corresponder a exatamente aquilo tudo que sonhamos. Para corresponder às nossas fantasias, quem sabe...
Essas acima, me parecem as idéias mais óbvias, ou mais atuais, a respeito da tão humana busca do amor. Mas, ao ler uma coluna de Antonio Prata, pensei que em breve os mistérios e as angústias do amor não encontrado talvez mudem de configuração.
No texto o autor divaga sobre os rumos das lentes digitais que, reza a lenda, em breve carregaremos todos, como se elas fossem extensão natural de nossos narizes e olhos. Sem contar os chips, que serão implantados em nós como se a fecundação tivesse se esquecido de algo essencial. Numa das passagens, Antonio Prata sugere: “Imagine um novo casal tendo aquela típica conversa sob os lençóis: ‘Que coisa doida a gente nunca ter se esbarrado por aí antes... Será que a gente já passou pertinho um do outro em algum lugar?’". E aí ele narra a visão que o casal tem, através das lentes, das aproximações, mas não encontros, no Playcenter, num cartório e na vida afora.
Imagino eu, agora, se a lente do Antonio marca no mapa os possíveis amores (ou o possível, para os mais românticos) com quem esbarramos, ou quase, mas de quem jamais nos aproximaríamos sem as lentes e chips. Aquele discreto procurar sairia de cena. E as coisas que são encontradas como efeito colateral também. O acaso, neste futuro não tão distante, ficaria cada vez mais escasso. E se o tal mapa não aponta ninguém? A esperança, como o acaso, se esvai.
No mesmo tema, em um episódio da série americana How I met your mother, o personagem principal vai à uma agência, que garante, por meios tecnológicos, encontrar seu par perfeito. Imagino que esta seja um realidade no Estados Unidos. Sem contar os já manjados sites de relacionamentos e afins.
Com mais ou menos tecnologia, a idéia de encontrar a pessoa certa – por ora, que seja – pode trazer, para muitos, um alívio, um aconchego, um lugar no mundo: ao lado daquela pessoa que tem todo o potencial para ser o seu amor.
Quanto à certeza se a pessoa ao seu lado é, de fato, a pessoa certa, isto é outra história...
*Luisa Rosenberg é psicóloga clínica junguiana, graduada em 2011 pela PUC-SP. Aos sábados, escreve sobre as coisas do cotidiano; “crônicas psicológicas” falando, muitas vezes, sobre as artes para tentar falar da vida.
E-mail: luisarosenbergcolonnese@gmail.com
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