Inimigo mEU
- redepsicoterapias
- 2 de abr. de 2014
- 3 min de leitura
Olá, leitores. O assunto de hoje é um tipo de comportamento que leva muitas pessoas a procurarem terapia. A autossabotagem é, em suma, um tipo de racionalização antecipatória. Para se proteger de frustrações futuras, você se comporta de modo a minar seus próprios objetivos.
Difícil de aceitar, né? Você passa a vida acreditando que faz tudo pelo sucesso, para então vir um estudante de psicologia e dizer que, na verdade, o que você faz é geralmente criar condições para o fracasso com máxima antecedência possível, só para se proteger? "Não, não pode ser assim, isso é loucura!", pode pensar. Não é exatamente loucura, mas é legal tentar evitar ao máximo ser o vilão no seu próprio filme. Estou aqui para ajudar nisso.
Começamos com a sua autoestima, afinal, é tudo em nome desta. Para que se mantenha confiante e orgulhoso, você vai tentar criar situações onde possa colocar a culpa de seu possível infortúnio futuro em forças externas, mas nunca em si mesmo. Sim, você tende, inconscientemente, a planejar desculpas antecipadamente. Afinal, se a culpa foi de forças externas, quem poderá dizer que você realmente fracassou? Ninguém quer parecer um perdedor.
De tempos em tempos, aparecerá algo que desafiará sua capacidade de ser bem-sucedido. Pode ser um projeto na faculdade, uma oportunidade de mudar de emprego ou até mesmo uma simples partida de vídeo-game com os amigos. Seja como for, algumas dúvidas irão flutuar na sua mente nesse momento. Quando o medo do fracasso for muito forte, você irá se autossabotar. Vai beber a noite toda antes da apresentação do projeto, vestir roupas inadequadas na entrevista para o novo emprego e escolher o pior personagem do Mario Kart. Acredite, somos todos muito criativos na hora da autossabotagem.
Alguns psicólogos já se dedicaram a estudar esse tipo de comportamento. Em 1978, Steve Berglas e Edward E. Jones selecionaram um grupo de bons estudantes, aplicaram-lhe um teste de conhecimentos gerais bem difícil e, após recolhê-los e falsamente corrigí-los, disseram a cada um deles que tinham tirado notas muito altas. A especulação era de que, uma vez tendo autoimagens aumentadas, os estudantes escolheriam protegê-la e provavelmente usariam autossabotagem se pudessem. Na segunda parte do experimento, os psicólogos ofereceram um novo exame, mas com a opção de os estudantes experimentarem uma droga que melhoraria seus desempenhos ou uma que os prejudicaria. A maioria escolheu o remédio para prejudicar. Obviamente a droga era falsa, mas a escolha deles foi bem real. O que acontece é que o risco de um outro teste aumenta a possibilidade de fracasso. Em vez de criar desculpas depois do provável fracasso acontecer, os estudantes preferiram criar condições para que as desculpas fossem reais. Caso se saíssem bem, poderiam dizer que conseguiram apesar das dificuldades. Se fossem mal, poderiam culpar os eventos externos em vez de sua própria incompetência.
O problema aumenta quando você acredita que sua personalidade está diretamente ligada ao seu desempenho exterior. Crises de ansiedade, grandes desordens depressivas e obsessivas são apenas algumas das possíveis evoluções. Em 1984, o psicólogo Philip Zimbardo escreveu: "Algumas pessoas baseiam toda sua identidade em seus atos. Elas assumem a atitude de que 'se você critica algo que faço, está me criticando.' O egocentrismo delas significa que não podem arriscar um fracasso por ser um golpe devastador para o seu ego".
Sempre que você tentar navegar por mares desconhecidos, com o fracasso à espreita como tubarões em volta do seu barco, tente usar outros meios para diminuir sua ansiedade. Mude suas referências, reprograme-se. Vencer a autossabotagem é possível se você conseguir desconstruir alguns paradigmas e um psicólogo pode ajudar muito nisso. Pense de forma positiva, permita-se pôr o "impossível" à prova e desafie-se. Verá que, na maioria das vezes, o seu maior inimigo era você.
*Luiz Medeiros é carioca e está se graduando em Psicologia pela IBMR - Laureate International Universities. Admirador de tudo que envolve o ser humano e seus mistérios, escreverá às quartas sobre curiosidades da psicologia, do comportamento e das neurociências. Tudo em linguagem fácil e com pitadas de humor.
E-mail: luizrjbrasil@gmail.com
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