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Savoir y Faire – Saber Fazer com Isso

  • Foto do escritor: redepsicoterapias
    redepsicoterapias
  • 13 de abr. de 2014
  • 3 min de leitura

Ao longo das horas, durante as sessões, muitas histórias são contadas. O sujeito senta-se na poltrona ou no divã e começa a divagar sobre os meandros do que se diz o “eu”, do lado de cá, sob seu ponto de vista. Quem é o “eu”? Como nos dizem: “sou o Sr. Fulano, trabalho na empresa X, sou casado, pai de duas filhas, gosto de comida japonesa, assisto o jornal todos os dias, não gosto de acordar depois das oito horas”. Um “eu” que, como qualquer outro, ama, sofre, trabalha, tenta, luta, perde, frustra-se, vai, volta... um eu advindo de um romance, o romance familiar de cada neurótico, como bem citou Freud.


Lacan veio nos dizer que o eu é uma espécie de véu de identificações imaginárias que construímos ao longo da vida, especialmente após a vivência do Édipo, complexo que nos funda enquanto sujeitos. Conforme a análise vai se estendendo, este “eu” narra e é narrado, pois no engodo do Outro, lente pela qual ele se vê, ele também é lido e dito por suas pulsões, por seu desejo. O Outro fala deste sujeito que, deslumbrado em seu “eu”, vez por outra é atropelado por este Outro que também fala – fala esta a que interessa ao analista. Cabe ao mesmo, então, guiar o analisando rumo ao saber Outro e fazê-lo ver que este saber tem um furo é faltoso.


Durante suas divagações em análise, eis que o sujeito se vê “esvaziando”. De repente as identificações construídas parecem castelos de areia, as verdades parecem relativas, o véu cai lentamente perante seus olhos quando é chegado o tempo, tempo do inconsciente, o chamado tempo lógico. O sujeito mal consegue ver o que se apresenta bem diante de seus olhos. Há um vazio, um nada, que não nos é totalmente desconhecido, pois antes de tudo, havia o nada, a ausência, a falta.


Neste momento, é comum o analisando experimentar certa angústia, mas também certo alívio, posto que, metaforicamente, é o peso de uma máscara que cai, um peso a menos para carregar. Por outro lado, se eu não sou quem achava que era, afinal, quem sou eu? – aqui jaz uma angústia, mais próxima do horror causado pelo encontro com o Real. É também um momento crucial da análise, onde o sujeito vai fazer a maior de suas escolhas: “vou em frente ou paro aqui?”


Mas o que há adiante? Nada. Há o que virá a ser, se o sujeito engajar-se na tarefa de fazer com isso, com este saber faltoso, responsabilizar-se por suas escolhas e pelo seu desejo. É o tempo da re-construção. Arriscaria dizer apenas construção, pois trata-se da primeira vez em que o sujeito se depara com seu desejo, e este marco não é sem efeitos. O desejo, enquanto falta, opera como motor, fazendo a cadeia de significantes permanecer em constante movimento, fazendo com que o “isso” não seja mais aquele que opera me boicotando. O sintoma se dissolve? Não sabemos. O inconsciente para de produzir atos falhos? Não sabemos. O sujeito encontra a “cura”? Não sabemos. Só sabemos que oferecemos ao sujeito um lugar novo, para que ele possa se des-construir e re-construir a cada vez que for preciso. Eis um bom significado para o neologismo de Lacan Savoir y Faire, ao pé da letra, traduzido por “saber fazer com isso ou saber fazer aí.”


* Psicóloga e Psicanalista, Diretora e Supervisora da Clínica Espaço Savoir y Faire, especialista em Semiótica psicanalítica – Clínica da Cultura pela PUC-SP, mestranda em Psicologia Clínica pela USP. Realiza pesquisas no campo das psicoses e outros transtornos graves do desenvolvimento. Escreve artigos utilizando a Semiótica Psicanalítica enquanto instrumento de leitura dos fenômenos sociais e culturais. Colunista da Rede Psicoterapias ao domingos onde escreve sobre Psicologia, filosofia e arte.


Contato: gualda.lorene@gmail.com

 
 
 

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