A Psicologia e o Tráfico Humano: A comercialização de um Corpo
- redepsicoterapias
- 13 de mai. de 2014
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Na DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM - Legislação Internacional Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, afirma em seu artigo 3º que: "Todo o homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal". E em seu artigo 6º e 7º: "Todo homem tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei. Todos tem direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação".
Diante da citação acima, a Psicologia, dentre as suas diversas interfaces, se vê diante de uma problemática multifatorial e multidisciplinar ao qual, mesmo acontecendo há muito tempo, atualmente tem sido colocada em evidência através da instituição religiosa católica em sua campanha da fraternidade de 2014: "Fraternidade e tráfico humano". Sendo a psicologia considerada a área de estudo do comportamento humano e suas vicissitudes, eis que, pra além do olhar religioso, começa a pensar nas questões subjetivas dessa realidade. De acordo com a Psicóloga Elen Rose Pereira de Freitas (Comitê Regional Interinstitucional de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas de São José do Rio Preto (CIPETP): "São pessoas que estão tendo suas vidas roubadas e isso não pode ser ignorado. A Psicologia tem um compromisso com a defesa dos Direitos Humanos e pode dar uma contribuição importante, especialmente no que se refere aos aspectos de prevenção e de acolhimento das vítimas".
Generalizando, os perfis de pessoas que sofrem violação dos direitos estão: recém-nascidos de ambos os sexos, mulheres em idade média a procura de trabalho e grandes lucros ou vida de requinte, pessoas saindo da adolescência e aqueles que acreditam na promessa de uma vida digna, mas, ao chegar, são submetidas a condições sub-humanas e escravidão. No que se refere à saúde física da vítima (seja qual for o direito violado) as consequências vão de aquisição de problemas cardiorrespiratórios à comprometimentos psicológicos graves como sintomas depressivos e disfunções sexuais e pós-traumáticos. A saúde mental sendo gravemente afetada faz da psicologia, também responsável por entrar na reflexão e ate mesmo intervenção dessa problemática.
Já o indivíduo capaz de praticar tal atitude transgressora, segundo estudos da organização internacional de migração (OIM) indicam um perfil não distante do perfil da vítima, tendo as seguintes características: Maus tratos na infância; Crescimento em condições de pobreza e em contextos sociais extremamente controversos onde caso existam, as leis e normas são deturbadas e não há sentimento de cooperatividade e solidariedade. O que explica a desordem psíquica e vulnerabilidade social destes, alertando a todos que o trabalho preventivo tanto de quem trafica, quanto de quem é traficado, é viável e ainda por cima o trabalho de enfrentamento também sendo incluso como forma de luta diante dessa realidade.
Nestes termos, aumenta a disponibilidade para levar a tona ações criminosas só para impor ganhos e se construir uma identidade. O traficante procura superar uma vida sem perspectivas e procura uma identidade que traz consigo poder, respeito social e bem-estar. Inicialmente, os traficantes eram sobretudo homens, provavelmente porque antes estes emigravam em maior número do que as mulheres. Mas, a OIM afirma que por volta dos anos 90, muitas mulheres começaram a fornecer, com sucesso, o mesmo tipo de serviço, graças à natural capacidade para estabelecer relações de confiança entre mulheres. Uma hipótese: uma mulher, emigrada num país de destino, periodicamente presta serviços de natureza sexual. O seu patrão pede-lhe para chamar mulheres do seu país de origem para alimentar o negócio em boates, night club etc. Graças a isso, ela não só receberá dinheiro como será vista de outra forma. Assume um estatuto mais elevado no seio da organização e poderá até tornar-se sócia.
Essa personalidade manipuladora e executora de atos expurgados pela sociedade, é de um sujeito que possui estrutura psíquica perversa, entrando no aspecto de uma satisfação em usar outro sujeito como objeto. Sensação de: "Tenho poder sobre você, posso fazer da sua vida o que eu quiser".
*Tabillo Lavinsky é psicólogo graduado pela FTC - Faculdade de Tecnologia e Ciências em Itabuna-Ba, finalizando especialização em Psicologia Clínica e Hospitalar pela FSBA – Faculdade Social da Bahia em Salvador-Ba. Atualmente exerce a função de Psicólogo do Conjunto Prisional de Eunápolis, e, já atuou no CRAS, equipe volante e na Clínica de abordagem psicanalítica. Muito interessado em temas atuais e sua relação com a Psicologia.
Contato: tabillolavinsky@gmail.com
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