Nada de novo sob o sol
- redepsicoterapias
- 12 de jul. de 2014
- 2 min de leitura
“E se o Eclesiastes [...] estiver certo e não existir nada de novo sob o Sol? E se tudo for, como diz o sábio bíblico, vaidade e vento que passa?”.
Quem fez o questionamento acima foi Luiz Felipe Pondé, em 31 de março deste ano (coluna completa: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2014/03/1433278-melhor-impossivel.shtml), mas parece bastante apropriado pensar nisso agora, quase quatro meses depois. Agora, que houve Copa, que deu tudo certo, que a alegria e a bebedeira se espalharam pelo país. Agora, justamente, que o Brasil foi eliminado da Copa sem chegar à final. Agora que o Brasil perdeu em casa de 7 a 1.
Pois é, teve Copa, teve comemoração, teve derrota, teve humilhação e decepção. E o mundo parece que continua igual. E depois da Copa? Igual, creio eu. Um vento que passou, como tantos outros que passam em nossas vidas, sem deixar rastros de mudança ou de perenidade. A vida segue e a gente se adapta a uma pessoa ou outra, ao novo lançamento da Apple, à comida da moda que promete eliminar todos os males do organismo; e o sol continua a brilhar, “sem alternativa, sobre o nada de novo” – como escreveu Samuel Beckett em seu primeiro romance, Murphy.
De tantas vaidades se preenche a vida... E tudo vai continuar igual. Mesmo as vaidades “nobres”, como gerar filhos e netos, mudam o que? Morreremos. E o sol vai continuar a nascer e se por, todos os dias, no mesmo lugar. O que muda, talvez, seja de onde, e como, vemos o caminhar do sol. Talvez a histérica alegria efeito-Copa tenha valido a pena para alguém naquele momento. E se a vida for, então, vaidade, vento que passa e a vivência de momentos?
Saímos de cena, mas o cenário permanece com outros atores a acompanhar a mesmice dos tempos. A nossa finitude assusta. A certeza da morte parece que faz emergir a necessidade de sentir-se agente ativo no mundo. Se é certo que morreremos, que seremos eterna e serenamente passivos, e é certo que nada mudará no ritmo do sol e da lua e que os rios continuarão a correr para o mar e o mar não vai transbordar; talvez a questão seja como mudar nossas vidas, dentro das nossas infindáveis vaidades. Uma vez uma peça da mesmice, talvez caiba a cada uma das peças definir seu papel no jogo do mundo. Independente de quem jogue.
*Luisa Rosenberg é psicóloga clínica junguiana, graduada em 2011 pela PUC-SP. Aos sábados, escreve sobre as coisas do cotidiano; “crônicas psicológicas” falando, muitas vezes, sobre as artes para tentar falar da vida.
E-mail: luisarosenbergcolonnese@gmail.com
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