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“Seja você mesmo", o maior clichê da Psicologia

  • Foto do escritor: redepsicoterapias
    redepsicoterapias
  • 25 de ago. de 2014
  • 3 min de leitura

Autores renomados em Psicologia já falaram bastante da necessidade de cada um ser o que é. Eles construíram teorias elaboradas e de grande serventia sobre o tema. Porém, o “seja você mesmo” descontextualizado de uma teoria bem construída já se tornou clichê há muito tempo. E quando uma premissa ou exortação se transforma em clichê, inevitavelmente ela adquire sentido inverso ao original.


“Seja você mesmo” significa não se preocupar com a imagem que se passa aos outros; significa tolerar diferenças de credo, opinião e escolhas e não mudar as suas próprias posições apenas para não ser diferente a ninguém. “Seja você mesmo” significa não sentir vergonha de si, não ter medo dos próprios desejos, ter a coragem de buscar a realização de seus projetos. Tudo isso, quando bem compreendido, deveria resultar numa pessoa que, consciente de sua individualidade, não se sentisse impelida a afirmá-la em atos ou palavras, já que essa necessidade revela exatamente a dificuldade de lidar com as diferenças, a vergonha de si mesmo, o medo dos próprios desejos e a postura titubeante na busca pela realização dos próprios projetos.


No entanto, que significado carrega o “seja você mesmo”, quando transformado em clichê, senão a necessidade de afirmar uma individualidade ainda insegura de si mesma? Qual o motivo de as pessoas gostarem tanto de ouvir e ler essa exortação senão a gratificação de estarem recebendo mais um incentivo para realizar algo de suma importância que ainda não conseguiram realizar? Se cada um de nós já “fosse o que é”, será que essa exortação teria tanto valor? Será que experimentaríamos o mesmo prazer em repeti-la e compartilhá-la?


“Seja você mesmo” significa não se importar com a imagem que passamos aos outros. Mas, o que pretende a pessoa que repete esse clichê senão passar aos outros a imagem de não se importar com a imagem que os outro fazem dela, ou, em linguajar mais comum, a imagem de não se importar com que os outros pensam dela? “Seja você mesmo” significa tolerar as diferenças. Mas, o que pretende a pessoa que repete esse clichê senão passar a mensagem de não se importar com as diferenças, quando na verdade se sente mais que incomodada com pessoas diferentes dela e pressionada para se ajustar a elas? “Seja você mesmo” significa não ter vergonha de si. Mas, o que pretende a pessoa que repete esse clichê senão abafar a vergonha do que é convencendo-se de ser o que não é - uma pessoa segura de si? “Seja você mesmo” significa não ter medo dos próprios desejos. Mas, o que pretende a pessoa que repete esse clichê senão controlar o medo diante do desejo de ser diferente de si mesma - ou do “si mesma” que ela acredita dever ser? “Seja você mesmo” significa a coragem de buscar a realização de seus projetos. Mas, o que pretende a pessoa que repete esse clichê senão convencer-se de que pode realizar tudo que deseja, mesmo não dispondo da coragem mínima para enfrentar os obstáculos que certamente aparecerão?


Os clichês são um veneno. Eles resultam da apropriação de sábias premissas e exortações para o uso contrário do original. Por isso é tão difícil combatê-los. Pois, se rejeitarmos o seu sentido, seremos obviamente contraditados por aqueles que nos mostrarão quão relevante ele é. Quem pode duvidar de que “seja você mesmo” é uma sábia exortação? Não é o sentido original da exortação que devemos combater, mas o que ela adquiriu ao se tornar um clichê. Em suma, devemos combater a forma como ela passou a ser usada quando se transformou em clichê. Quando compreendermos o que é um clichê, como ele se forma e para que ele é usado, veremos que não há palavra, por mais sábia, que não possa se transformar em clichê, e que, por isso, a maioria das “sábias verdades” que repetimos e compartilhamos não passa de lixo.




*É psicólogo de influência existencial e psicanalítica. Atua na clínica há 12 anos. Tem a graduação e o mestrado em Filosofia e atualmente é doutorando, também em Filosofia, pela UFMG. É ensaísta e publica seus textos na página 'Psicologia no Cotidiano' do Facebook: www.facebook.com/cotidianoepsicologia.



 
 
 

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