Psicólogos e Psicologias: Reflexões
- redepsicoterapias
- 14 de set. de 2014
- 2 min de leitura
Tenho pouco mais de cinco anos de formada. Passeei bastante nos tempos de faculdade, embalada por teorias, hipóteses, sensações, críticas, devaneios e, por tais meandros, iniciei a construção de um caminho que pudesse chamar de meu. Resolvi tornar-me psicanalista. A partir da psicanálise, de minha própria análise pessoal, de meus estudos e supervisões clinicas, deveria advir um sujeito psicanalista, nome este que eu mesma deveria usar em determinado momento da minha vida. Caminho árduo, mas esta foi minha escolha. A única que me foi possível, devo dizer, pois foi a única que mobilizou meu desejo.
O diploma nos confere um título, uma posição social respaldada por um saber chancelado por uma instituição educacional. Enquanto psicólogos, finalmente, iniciaríamos a batalha. Acredito que batalha seja mesmo a palavra adequada. A verdade é que, fora dos muros da academia, lutamos ainda sozinhos. É lamentável ver como nossa classe ainda permanece enfraquecida pela desunião, pelo despreparo, às vezes beirando o descaso. Somos jovens, nossa ciência é jovem. O país ainda está se acostumando com estes profissionais que “escutam problemas dos outros”, que às vezes usam jaleco, às vezes usam sandálias rasteiras. Como a sociedade nos vê e o que espera de nós, ainda parece ser misterioso. Não, a universidade não dá respostas: dá-nos muito mais perguntas que levamos dentro do bolso enquanto construímos uma prática psi genuína, viável para cada um, porque nossa ciência se reinventa a cada novo psicólogo que se forma.
Cada psicólogo forma-se sozinho e é responsável por sua formação e sua prática. Não somos um, somos vários, assim como o são as correntes de pensamento, ou ditas abordagens teóricas. Mas, por outro lado, somos um enquanto categoria muitas vezes negligenciada, desamparada, desrespeitada. Não temos um piso salarial. As trinta horas parecem nunca chegar. Colegas criticam destrutivamente abordagens de colegas e, durante entrevistas de emprego, menosprezam o saber/práxis alheio. Estamos sendo ingênuos, na melhor das hipóteses. Não estamos competindo, como muitos pensam. Não há vagas para todos, as formações são caras e longas, os salários são baixos. Mas isso não serve mais como desculpa para deturpamos as teorias que estudamos com tanto afinco, ou para sermos antiéticos, ou para darmos sempre o famoso “jeitinho brasileiro”. Respeitemos mais nosso saber e nós mesmos que, antes de psicólogos, somos seres humanos.
Ser psicólogo não é para qualquer um, não é a toa que tantos diplomas permanecem empoeirados dentro do armário. Ser psicólogo é ser pluri, multi, e andar de mãos dadas sempre com a angústia de não se ter algo pronto, mas de se ter sempre uma longa estrada a ser construída para depois, ser trilhada. Lutemos com mais paixão, mais solidariedade, mais maturidade, mais cidadania, porque nossa profissão carrega honrarias das mais nobres: cuidar do sofrimento do outro. Feliz dia do psicólogo aos que permanecem de pé.
* Psicóloga e Psicanalista, Diretora e Supervisora da Clínica Espaço Savoir y Faire, especialista em Semiótica psicanalítica – Clínica da Cultura pela PUC-SP, mestranda em Psicologia Clínica pela USP. Realiza pesquisas no campo das psicoses e outros transtornos graves do desenvolvimento. Escreve artigos utilizando a Semiótica Psicanalítica enquanto instrumento de leitura dos fenômenos sociais e culturais. Colunista da Rede Psicoterapias ao domingos onde escreve sobre Psicologia, filosofia e arte.
Contato: gualda.lorene@gmail.com
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