top of page

A Solidão e o (seu) Avesso

  • Foto do escritor: redepsicoterapias
    redepsicoterapias
  • 21 de set. de 2014
  • 3 min de leitura

“Todas as pessoas solitárias, de onde elas vêm? Todas as pessoas solitárias, de onde elas são?”


Peguei-me escutando esta velha canção dos Beatles por estes dias e pensando nas pessoas solitárias do mundo, e nas pessoas que tanto se queixam de uma tal solidão no divã.


Parece-me, por um segundo, que a solidão é uma utopia como tantas outras que existiram há um longo tempo atrás mas que, como tantos outros problemas, foram rapidamente varridos do planeta através do avanço das tecnociências e tantas outras parafernálias high tec.


Estamos em rede, todos conectados, ao vivo, online vinte e quatro horas por dia. Nossa vida não passa mais despercebida, a vida de cada um não é simplesmente uma vida, é um show! Relações são estabelecidas momentaneamente, o mundo todo está ao alcance de um clique e... todos se esqueceram que há o botão delete. Você já foi deletado? Todos podemos ser deletados, disso o inconsciente não tarda em nos re-lembrar.


Um clique, e pronto, você rapidamente desapareceu do mundo. E se vê sozinho. Como sozinho? Como alguém pode estar sozinho em meio ao “show da vida” que se descortina a cada segundo diante nossos olhos?


O sujeito padece de males que advém de um recalque incisivo que incide diretamente sobre o que de mais humano possuímos: nossos limites, nossa finitude. Em meio a uma sociedade repleta de obrigações incessantes, vigiadas via redes sociais, o sujeito sofre porque não alcança o que lhe foi prometido, porque não consegue cumprir suas obrigações. E este mesmo sujeito, desvanece em defesas e sintomas: hora de ir consultar um profissional.


A solidão de um mundo cheio de nada aparece cada vez mais nos consultórios. O eu diante do próprio eu é um surto e, em meio a tal surto, nos cobram cura. Cura rápida e indolor. O eu que vê a si mesmo tem cura? Cura-se da solidão? Cura-se de amar? Cura-se da castração?


Ouso dizer que quem sofre de solidão nos dias de hoje é um herói, pois ousou ultrapassar as barreiras e obrigações impostas pela ditadura da conectividade. Quem viu a solidão, rompeu algum fio, cortou um laço, rasgou uma linha. Este ser é ousado, destemido: quis ficar só. Quem quer estar só? Nem que seja no consultório do psicanalista, para algum lugar vamos, para não ficarmos sós (sim, caros colegas psi, também somos ferramentas do sistema big brother, não podemos descansar de nos re-analisar!). Quem ficou só, ficou para trás, e nada mais viu. Ou melhor, quem ficou só, viu o buraco da castração. “E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você.” Friedrich Nietzsche – Além do bem e do mal.

All the lonely people Where do they all come from? All the lonely people Where do they all belong? - Eleanor Rigby, The Beatles

P.S. Alguém aí já se perguntou por que esta música tem apenas dois minutos de duração?


* Psicóloga e Psicanalista, Diretora e Supervisora da Clínica Espaço Savoir y Faire, especialista em Semiótica psicanalítica – Clínica da Cultura pela PUC-SP, mestranda em Psicologia Clínica pela USP. Realiza pesquisas no campo das psicoses e outros transtornos graves do desenvolvimento. Escreve artigos utilizando a Semiótica Psicanalítica enquanto instrumento de leitura dos fenômenos sociais e culturais. Colunista da Rede Psicoterapias ao domingos onde escreve sobre Psicologia, filosofia e arte.


Contato: gualda.lorene@gmail.com

 
 
 

コメント


Siga-nos
  • Facebook Classic
  • Twitter Classic
  • Google Classic

Vamos continuar este contato? Assine a nossa newsletter!

Agora você faz parte da nossa Rede!

Consultório sede:

Rua Joviano Naves, 15 - sala 04. | Belo Horizonte /MG

 

Nossos contatos:

(031) 4141-6838

(031) 4141-6839

redepsicoterapias@gmail.com

Nos acompanhe:

  • Wix Facebook page
  • Instagram Social Icon
  • Wix Twitter page
  • Wix Google+ page
  • LinkedIn Social Icon

©Copyright 2011 Rede Psicoterapias. Todos os direitos reservados.

bottom of page