Validação Subjetiva
- redepsicoterapias
- 9 de out. de 2014
- 4 min de leitura
Olá, querido leitor. No texto de hoje eu vou falar de um assunto que me interessa e venho pesquisando há algum tempo: você. Sim, depois de quase um ano escrevendo aqui na Rede Psicoterapias, tenho uma boa noção de quem você é. Quer ver? De acordo com os meus estudos...
Você possui algumas fraquezas pessoais, mas geralmente é capaz de compensá-las. Tem também uma capacidade considerável que ainda não usou a seu favor. Disciplinado e autocontrolado por fora, tende a ser preocupado e inseguro por dentro. Às vezes fica duvidoso se tomou a decisão certa. Prefere uma certa quantidade de mudança e variedade, ficando insatisfeito quando cercado de restrições e limitações. Tem orgulho de ser um pensador independente, não aceitando afirmativas alheias sem provas satisfatórias. Descobriu com o tempo que não é bom ser muito franco ao se revelar para os outros. Às vezes acorda sentindo-se mais extrovertido, afável e sociável, sem deixar de ser algumas vezes reservado e cauteloso. Algumas das suas aspirações tendem a ser bastante irrealistas.
E aí, acertei algo? Isso te descreve? Deveria, pois descreve todo mundo.
As palavras que leu são de um experimento realizado em 1948 pelo psicólogo Bertram R. Forer. Na ocasião, Forer deu a seus alunos um teste de personalidade e disse que cada um seria avaliado particularmente. Num momento posterior, pediu que os estudantes avaliassem suas análises e dessem notas para elas. Na média, 85% dos estudantes concordaram com as palavras escritas pelo psicólogo e disseram que elas os descreviam. O que eles não sabiam é que todos receberam a mesma avaliação. O que tinham não era uma visão minuciosa de suas personalidades, mas sim uma sopa de letrinhas feita com fragmentos de horóscopos daquele dia, um punhado de leitura fria generalista.
A tendência a acreditar em afirmações vagas feitas para apelar a quase todo mundo se chama Efeito Forer, que é parte de um fenômeno maior chamado Validação Subjetiva.
Validação subjetiva é um jeito bonitinho de dizer que você é mais vulnerável a sugestões quando o assunto da conversa é você. Sim, você é um dos seus assuntos preferidos!
Vou explicar como as coisas acontecem. Todos passamos muito tempo pensando em nós mesmos. Com algumas variações culturais, gostamos de nos sentir únicos e especiais, com medos, dúvidas e sonhos próprios. Repare, se há um meio, fazemos o possível para personalizar as coisas: toque de celular, parede do quarto, carro, não importa. Tudo ao redor diz algo sobre nossa personalidade. Cultivar esse "Eu" incomparável é algo difícil. Porém, em algum lugar entre cultura e natureza, somos todos muito mais parecidos do que imaginamos. Geneticamente você, eu e o resto dos humanos no mundo somos praticamente idênticos. Os genes criam tudo, inclusive o cérebro que abrigará seus pensamentos. Isso faz com que a sua vida mental não seja lá tão diferente da de ninguém. Culturalmente diferimos, sim, e nossas experiências variadas acabam nos moldando, mas ainda assim, do ponto de vista biológico, somos todos muito parecidos.
Essa similaridade entre nossos aparelhos psíquicos muitas vezes nos pregam peças e a validação subjetiva é uma delas. Se uma declaração é ambígua, mas você acha que está diretamente relacionada à sua pessoa, irá afastar qualquer resquício de dúvida e combinar as informações genéricas com seus próprios traços (e a não percepção disso pode ser explorada).
Vamos usar o horóscopo como exemplo. Já tentou ler outro signo além do seu? Tente e perceba que a maioria das mensagens poderia ser aplicada a qualquer pessoa. A questão é que se você vive sob um determinado signo e acredita que o movimento dos planetas pode dizer se amanhã você vai ter um dia bom ou ruim, uma declaração geral se torna específica. Você anseia para que aquilo tenha algum significado, encaixe-se em algum lugar, e é essa esperança que dá poder à validação subjetiva. Seu cérebro odeia desordem. Quando precisar que algo seja verdade, ele irá procurar por padrões que o levem a dar sentido às coisas.
Agora pense em quiromantes, bruxos, tarólogos e mais aquele monte de pessoas que afirmam ter poderes de prever o futuro, se comunicar com mortos ou coisas assim, em troca de dinheiro. Todos eles sabem que podem depender de você para usar a validação subjetiva em algum momento e o viés de confirmação em outro. Também sabem que se as palavras forem de cunho positivo, você tem uma tendência maior a acreditar e tomar aquilo como "perfeito para o momento da sua vida". Junte essas informações a alguma habilidade de leitura fria e teremos um mentalista poderoso te dizendo tudo sobre a sua vida.
Dessa forma, quando você se deparar com seu horóscopo amanhã, leia todos e comprove que a sua capacidade de se enganar é maior do que a habilidade de qualquer conjurador. Como uma criatura impelida a ter esperança, você tenta encontrar sentido no mundo, mas saiba que há muita coisa que não tem sentido. Quando a cigana te parar na rua e falar que pode ver dentro do seu coração, perceba que todos os nossos corações são essencialmente muito semelhantes.
Até a próxima.
*Luiz Medeiros é carioca e está se graduando em Psicologia pela IBMR - Laureate International Universities. Admirador de tudo que envolve o ser humano e seus mistérios, escreverá às quartas sobre curiosidades da psicologia, do comportamento e das neurociências. Tudo em linguagem fácil e com pitadas de humor.
E-mail: luizrjbrasil@gmail.com
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