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Sol nosso que estais no céu

  • Foto do escritor: redepsicoterapias
    redepsicoterapias
  • 1 de fev. de 2015
  • 4 min de leitura

Here comes the sun, tchururu…


- The Beatles


Olá pessoal! Esta é minha primeira coluna no site psicoterapias. Alguns assuntos que gostaria de tratar aqui são referentes à psicologia analítica, arte, mitologia, símbolos e espiritualidade. Espero que gostem!


Como os textos postados aqui são inéditos, eu ainda não sabia o que escrever. Quando me contaram que minha coluna seria publicada aos Domingos, tive um insight.


Alguns de vocês sabem, mas eu mesmo demorei um tempo para perceber que os dias da semana estão associados aos sete planetas alquímicos, conhecidos também como os planetas da antiguidade. São eles o Sol, a Lua, Vênus, Marte, Mercúrio, Júpiter e Saturno. Essa associação é fácil de perceber, por exemplo, no inglês: Sun-day, ou o dia do Sol.


Com isso em mente, resolvi aproveitar para estrear a coluna falando do Sol. Mas não da estrela central do nosso sistema solar, e sim do símbolo Sol, e sua representação no nosso psiquismo e cultura.


Vale a pena frisar que sempre que estudamos o simbolismo de algo, devemos considerar não só a imagem visual e estética do símbolo, mas também o seu significado subjetivo, dentro do psiquismo individual e coletivo, identificando sua manifestação na cultura, nas religiões, poemas, músicas, arquitetura, e todas as outras manifestações artísticas.


O culto ao Sol, possivelmente é um dos sistemas religiosos mais antigos de todos e é praticamente impossível uma cultura que não tenha essa figura dentro de seu panteão simbólico. Tais culturas consideravam o Sol como uma manifestação direta do divino, ou até mesmo como deus em si. Isso porque o Sol é a referência máxima reguladora das sociedades: os ciclos solares, solstícios e equinócios, eram (e ainda são!) intimamente ligados às estações do ano, às colheitas e consequentemente às festividades que as acompanhavam.


“O culto solar foi comum a todos os povos que, de pastores nômades, tornaram-se agricultores e deram nascimento às religiões hindus, mulçumanas, ao sabeísmo, ao esoterismo de Zoroastro, ao sufismo, ao panteísmo, aos cultos de Baal, de Hélios, de Sab (o Muito Elevado), Zeus, Apolo, Júpiter, Amoun, Hórus, Osíris, Anton, Bel, Ashtur, Jeová, Mitra, Uiracoca.” (JULIEN, 1989, pág. 455)

O Sol remete ao princípio masculino, ao pai, ao princípio positivo, o logos, o yang, o quente. Na cabala judaica está ligada à sephirot Tiferet, que representa a beleza. Está simbolicamente ligado ao coração. A expressão coração de ouro nos remete à alquimia, na qual, os planetas são representados por diferentes metais, estando o ouro e o sol intimamente ligados. O grande objetivo dos alquimistas é a obtenção da pedra filosofal, que pode transformar qualquer metal pesado em ouro. Mas não o ouro dos tolos, e sim, o ouro do espírito, da personalidade elevada. Dentro da metáfora alquímica, os metais densos são nossas corrupções egóicas, nossos medos e limitações, e ao transformar tais metais em ouro, estamos purificando a nós mesmos, transcendendo nosso egoísmo e atingindo um estágio de maior equilíbrio e fluência com a vida. Não é coincidência que o pecado capital Orgulho esteja associado ao sol, sendo a Humildade a virtude que o contrapõe.


O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, percebeu ao se deparar com o conteúdo que seus pacientes traziam no consultório, que muitos de seus conflitos e resoluções, tinham associações diretas com as metáforas alquímicas. Percebeu que a verdadeira arte da alquimia está em transmutar a si próprio, através da observação da natureza e seus fenômenos.


[..] Não basta ver o Sol nascer e declinar; esta observação exterior deve corresponder a um acontecimento anímico, em que o Sol deve representar em sua trajetória o destino de um deus ou herói que, no fundo, habita unicamente a alma do homem. Todos os acontecimentos mitologizados da natureza, tais como o verão e o inverno, as fases da lua, as estações chuvosas, etc, não são de modo algum alegorias destas experiências objetivas, mas sim, expressões simbólicas do drama interno e inconsciente da alma, que a consciência humana consegue apreender através de projeção - isto é, espelhadas nos fenômenos da natureza. (JUNG, 2011, pág. 18)

Ainda na alquimia o sol e o rei são representados pelo mesmo simbolismo, e concebem significados análogos. Na astrologia, o sol representa nossa personalidade, nosso ego, nosso centro. O signo de Leão é regido pelo Sol, e não à toa, é o rei da floresta, gosta de ser o centro das atenções, de brilhar, sabe se impor e liderar. No tarot, o arcano XIX é ‘O Sol’, e tal carta representa a vitalidade, clareza, intuição e razão.


Representante da luz, é comum ver uma coroa solar pintada na cabeça dos santos, os iluminados. O astro rei também nos remete ao simbolismo da morte e da ressurreição, pois ‘morre’ todas as noites, e renasce no horizonte pela manhã. Se transformando, ascendendo aos céus durante o dia e descendo aos infernos durante a noite, num curso constante.


É fácil perceber porque o Sol é tão importante no nosso psiquismo, pois além de nos aquecer, nos nutrir, alimentar as plantas que nos permitem a vida, nos ensina que mesmo as madrugadas mais longas e escuras, são seguidas da aurora de um novo dia, nos convidando a manter a esperança e a gratidão pela vida.


Que horas que te não tomem

Da estatura da sombra

Que serás quando fores

Na noite e ao fim da estrada.

Colhe as flores, mas larga-as,

Das mãos mal as olhaste.

Senta-te ao sol. Abdica

E sê rei de ti próprio.

Ricardo Reis, in “Odes”

Heterônimo de Fernando Pessoa

Referências:

JULIEN, Nadia. Dicionário dos Símbolos. São Paulo. Ed. Rideel. 1989

JUNG, Carl Gustav. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Obras Completas. Vol. IX/I. Petrópolis. Ed. Vozes. 2011.

Ricardo Assarice dos Santos é psicólogo formado pelo Mackenzie. Escreve em blogs e revistas de psicologia, além de realizar psicoterapia e Reiki na cidade de São Paulo . Quinzenalmente aos domingos, posta na Rede Psicoterapias sobre assuntos ligados à psicologia analítica, arte, mitologia, símbolos e espiritualidade.


contato: psico.atendimento.sp@gmail.com

 
 
 

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