“Isso é assédio moral!”: um tipo de violência no trabalho
- redepsicoterapias
- 16 de fev. de 2015
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“O assédio moral é um doloroso efeito colateral e um alerta, infelizmente ainda silencioso, de que o benefício de poucos nunca poderá levar o bem-estar para todos”. (SOARES e OLIVEIRA, 2012).
Trabalho há alguns anos em empresas e me acostumei a observar muitos fenômenos dos livros de gestão de pessoas na prática. Dentre os temas que pairam as discussões sobre a saúde física e mental no trabalho, nos habituamos a ouvir, com frequência, sobre o assédio sexual – constrangimento por meio de cantadas e insinuações constantes com o objetivo de obter vantagens ou favorecimento sexual (MTE, 2009). Como nome já diz, sua definição não foge muito do que imaginamos ser. No entanto, o assédio moral, outro tipo de violência no trabalho, vem merecendo destaque recente em artigos científicos e pesquisas e, sobre sua definição, já não podemos dizer que seja óbvia. Chamado simplesmente de bullying na língua inglesa, ou bullying at work, o assédio moral no trabalho é um grande problema para as organizações e traz consequências tanto para os indivíduos envolvidos como para a empresa. Citada por Soares e Oliveira (2012), Hirigoyen (1998) o define como qualquer conduta abusiva que se manifesta por palavras, gestos e comportamentos que podem atingir a dignidade ou a integridade física ou psíquica de alguém, colocando seu trabalho em perigo ou degradando o clima organizacional. É possível que muitos se identifiquem imediatamente ao ler essa definição ou se lembrem de algum caso conhecido de abuso no trabalho. Mas, calma! Leia o resto antes de pensar em processar seu chefe ou alertar algum colega de equipe. É importante ressaltar que o assédio moral é um processo que se desenvolve no tempo, tendo como aspecto essencial sua frequência e duração, não devendo ser analisado isoladamente. De acordo com Vieira, Lima e Lima (2012), esse tipo de violência no trabalho pode se manifestar de diversas maneiras, seja ainda através da exigência de tarefas impossíveis ou exposição do indivíduo ao ridículo, por exemplo. Apesar de ser caracterizado geralmente pela repetição, nem sempre o assédio vem em forma de eventos frequentes. Um rumor que se espalha e ameaça a reputação e a carreira de uma pessoa também pode ser considerado, assim como a exclusão física de indivíduos nas organizações, em salas isoladas, sem telefones, sem tarefas, tratando-se assim de um estado permanente e não episódico.
Para fins estatísticos, Soares e Oliveira (2012) afirmam que muitos pesquisadores consideram um período de seis meses para que seja considerado o assédio moral, entretanto, os autores ressaltam a importância de não nos prendermos a esse espaço de tempo e expandirmos os critérios de análise desse fenômeno.
Possível de ser analisado pelo viés jurídico, econômico, psicológico e sociológico, o assédio moral é um fenômeno complexo e que sofre influência das relações sociais, da cultura, do contexto socioeconômico, dos modelos de gestão, organizações do trabalho e história de vida dos indivíduos – tanto do assediado como do assediador.
Os impactos do assédio moral para as organizações são desastrosos segundo os autores. Ainda subestimado pelas empresas, o assédio moral pode trazer consequências como: perda de produtividade, rotação da mão de obra, absenteísmo, custo em processos e impacto negativo na imagem da organização.
Já para as vítimas, algumas pesquisas indicam a degradação da saúde física e mental, estabelecendo relação entre assédio e sintomas de depressão e ansiedade, assim como queixas de dores de cabeça, dor de estômago e insônia. Apesar de ressaltarem que os impactos variam de pessoa para pessoa, e de acordo com sua duração, os autores citam a possível contribuição do assédio moral com a origem de problemas de saúde mental, dentre eles o estresse pós-traumático e consequências extremas como o suicídio.
Convergentes sobre como o fenômeno se manifesta, as teorias e intervenções sobre o assédio moral discordam sobre suas causas, fatores que o determinam e o modo de lidar com o problema (VIEIRA, LIMA e LIMA, 2012). Pessoalmente acredito que a compreensão do assédio moral repouse na análise de nossas relações de trabalho, modelos de gestão, estruturas organizacionais e demandas econômicas, além dos fatores psicológicos. Para quem se interessar, indico algumas leituras para se aprofundar no tema. Até a próxima!
Livros: * Assédio moral: a violência perversa do cotidiano, Marie-France Hirigoyen, 2000. * Violência, saúde, trabalho: uma jornada de humilhações, Margarida Barreto, 2003.
Referências: Cartilha do Ministério do Trabalho e Emprego: Assédio moral e sexual no trabalho – Brasília: MTE, ASCOM, 2009. SOARES, Angelo. As origens do conceito de assédio moral no trabalho. Rev. bras. Saúde ocup. São Paulo, 37 (126): 284-286, 2012. SOARES, Angelo; OLIVEIRA, Juliana Andrade. O assédio moral no trabalho: uma breve introdução. Rev. bras. Saúde ocup., São Paulo, 37 (126): 195-202, 2012. VIEIRA, Carlos Eduardo Carrusca; LIMA, Francisco de Paula Antunes; LIMA, Maria Elizabeth Antunes. E se o assédio não fosse moral? Perspectivas de análise de conflitos interpessoais em situações de trabalho. Rev. bras. Saúde ocup., São Paulo, 37 (126): 256-268, 2012.

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