As perguntas não respondidas pelo terapeuta
- redepsicoterapias
- 8 de mar. de 2015
- 2 min de leitura
Vivemos em um mundo da coexistência. Por sermos seres sociais, nosso desenvolvimento depende, principalmente, do encontro com outras pessoas. Através do olhar e da vivência com o outro eu me reconheço e me compreendo. E esta inter-relação ocorre desde o nascimento, com o olhar e o cuidado do “outro”. A mãe, ou o cuidador, nomeia as necessidades, as expressões e as atitudes e é assim, através da nomeação do outro, que nos constituímos.
Neste modo de viver com o outro, nossas escolhas estão ligadas aos que nos proporcionam o reconhecimento. Mas a pergunta que precisamos aprender a fazer é: “Desejo ser reconhecido por quem?”.
De fato, é impossível agradar a todas as pessoas. Ao longo da vida vamos nos identificando com valores e condutas, tendo como base as pessoas que nos amam e as nossas próprias experiências. Caso façamos a tentativa de buscar a aprovação e o reconhecimento de todos, corremos o risco de perder-nos drasticamente num modo de viver inautêntico.
No entanto, a inautenticidade em si é uma condição humana e, por isto, não é um valor negativo. É uma forma de fugirmos do desamparo, do sentimento de inadequação. O ser inautêntico é uma “queda” de si mesmo, para nos tornarmos iguais aos demais. Abrimos mãos de nós mesmos, da nossa autenticidade, para sermos como os outros.
É o que acontece quando um cliente pergunta ao terapeuta “O que você faria se estivesse no meu lugar?”. Ao ouvir perguntas como esta, compreendo que há uma difícil escolha a ser feita, um dilema a ser solucionado. Afinal, é por isto mesmo que aquela pessoa está ali, frente a um psicólogo.
Compreender e acolher o desamparo da pessoa é um papel fundamental do psicólogo. Mas será ele mais um a repetir o que a vida já encarrega de fazer? As situações da vida já nos entornam um emaranhado de respostas prontas, que por muitas vezes nos apropriamos. Definitivamente, não é esta a função do psicólogo.
Mas, preciso reconhecer, o tempo está “curto” demais, apesar de que temos as mesmas 24 horas de todos os dias. Uma grande parcela das pessoas buscam mais praticidade, rapidez e receitas prontas. A maioria também, sentem-se frustradas quando chegam em uma terapia e não recebem a resposta daquilo que as afligem.
Contudo, quando o processo acontece, é recompensador acompanhar a tomada de consciência, o encontro consigo, a vivência autentica. Este é um dos privilégios de ser terapeuta, acompanhar o desabrochar de uma pessoa.
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Vozes, Petrópolis, 1993.

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