Querer menos
- Sabrina Lima
- 25 de mar. de 2015
- 3 min de leitura

Ouvi dizer de algum escritor, que não lembro mais o nome, que essa história de escrever somente por inspiração é uma grande bobagem, coisa de pessoas amadoras. Que a arte verdadeira, assim como a ciência, era feita muito mais de esforço e dedicação do que inspiração em si. Na época isso fez muito sentido, visto que existem autores que publicam um livro por ano e eu, pobre mortal, estava às voltas com ideias aleatórias.
Essa semana estive perdida em meus horários, e hoje, prazo limite para entregar esse texto, fiquei rígida em frente ao computador, pensando em temas que poderia escrever e pensando nessa máxima: inspiração é uma grande bobagem e o que valeria mesmo não é o meu sentimento, mas sim minha dedicação e as horas a fio que estou disposta a dedicar noite adentro até escrever algo que julgue digno de publicação.
Hora vai, hora vem e percebo que não sai nada. Sou uma amadora, definitivamente. Tenho cinco temas rascunhados e absolutamente nenhum deles vai adiante. Depois de brigar muito com minha autocrítica que me forçava ao tão sonhado “esforço-do-escritor-de-verdade”, decidi desistir da tarefa por um tempo e me perceber como atuante diante da cena que estava vivendo.
Se tem algo que aprendi com a Psicologia nos últimos anos é que, em qualquer abordagem, é uma boa ideia estar confortável consigo mesmo. Teóricos diversos chamarão isso de nomes infinitos, mas eu gosto de definir essa sensação simplesmente como “conforto”, e é menos simples do que parece.
Por que estou dizendo isso? Fato 1. Não sou uma pessoa organizada e esforçada por natureza. Nunca fui, embora ao observador distante eu engane bem. Isso me trouxe e traz vários contratempos práticos em um primeiro momento e vários sentimentos de culpa em outros. Fato 2. Eu realmente gostaria de ser mais dedicada, assim como imaginava que um psicólogo devia ser: certinho, organizado, falando baixo, calmo. Mas não sou assim. Não tenho toda essa parte de dedicação exaustiva e disciplinada à ciência como falam nos livros, e isso por muito tempo me fez pensar que eu seria uma psicóloga medíocre.
Fato é que tenho aprendido na minha curta prática profissional pós-faculdade, que existem tipos de profissionais assim como existem tipos de pessoas. E não existe jeito certo de ser gente, embora teimosamente a gente acredite que sim, e se apegue a padrões que escutamos e vemos por aí, e em alguns casos, até trave por achar que está de fora.
Há alguns dias no trabalho eu estava nesse enorme esforço para ser melhor, mais organizada, profissional maravilha, quando meu supervisor me chamou a atenção dizendo que nada disso soava autêntico. Fiquei muito abalada! Estava tentando melhorar, certo? Discutindo o tema ele me fez compreender que não era forçando a barra que eu faria o que faço de melhor, e que era no meu potencial “caótico” que morava minha criatividade e raciocínio clínico.
Quer dizer que a gente não precisa se esforçar para mudar? Ops, não é bem por aí. Digo apenas que esse processo não precisa ser violento com a gente mesmo. Na verdade, se torna muito mais desafiador aceitar o jeito como somos, com nossos limites e potências, do que traçar metas longínquas. Às vezes, é muito mais difícil querer menos. Mas é talvez aí que more a reserva de energia que falta pra gente sair do lugar, como no caso desse texto.
Até a próxima!

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