Não é fácil, mas no fundo é simples ser feliz
- Heder Naves Batista
- 10 de abr. de 2015
- 3 min de leitura

Na última coluna utilizei como recurso meu livro favorito, “O Pequeno Príncipe”, para ilustrar a sede que temos de encontrar um amigo na imensidão do deserto que é nossa vida ultimamente. E havia colocado como proposta que esquecêssemos ou deixássemos de lado nossos hábitos da comunicação e interação virtual e resgatássemos nossas relações pessoais e reais, aquelas que eram rotineiras em um passado não muito distante, onde a mensagem, abraços, beijos e conversas se faziam na realidade e no calor humano da troca de experiências e sentimentos.
Devo dizer que foi uma experiência muito interessante essa proposta de texto. Algumas pessoas abraçaram a ideia e me relataram a emoção e a surpresa que elas, e os outros, sentiram ao deixarem de usar os teclados dos aparelhos e passaram a usar a voz e o toque para exprimirem suas emoções. Um relato recebido por mensagem me chamou a atenção quando uma pessoa disse que percebeu a diferença desse contato real ao ouvir e se contagiar pela “risada gostosa” que só as conversas cara a cara proporcionam. Vejam que estamos falando de uma emoção através de uma risada, de uma gargalhada, de um som, de usar os sentidos que fazem parte de nossa constituição.
Tomando o texto passado como base e depois de mais algumas sessões de terapia, de troca com meus pacientes, me veio à lembrança um texto que li há algum tempo nas aulas de Filosofia e que muitos conhecem, o texto de Platão no livro “A República”, que conhecemos por “Alegoria da Caverna” ou “Mito da Caverna”.
Irei utilizar esse fragmento do livro de Platão com o olhar diferente daquele proposto pelo escritor ou refletido à luz da Filosofia. Na verdade quero usar a ideia proposta por ele, na qual temos prisioneiros acorrentados dentro de uma caverna e que têm medo de saírem para a luz (o texto não se resume a apenas isso que coloquei, mas é o enfoque sobre o qual quero refletir).
Em algumas sessões psicoterapêuticas que atendi durante esses últimos dias, percebi a igualdade em relatos de pacientes que trouxeram a dificuldade para saírem da condição que em que se encontram e buscarem um novo caminho, uma nova chance ou um novo horizonte.
Percebi que a “Alegoria da Caverna” continua muito atual nas relações das pessoas no que tange a suas dificuldades internas em deixarem as correntes que as aprisionam e na busca de novos horizontes e experiências. E não se trata apenas de medo do desconhecido ou daquilo que ele pode trazer para a vida dessas pessoas, mas principalmente da dificuldade em deixar cair por terra as correntes que ainda as seguram na caverna em que se encontram. O receio maior nem é pelo que está por vir, mas sim, pelo deixar de viver o que é presente, mesmo sendo algo que lhes traga sofrimento ou infelicidade.
Essa é uma das mais difíceis questões para o homem, deixar de viver aquilo que o acompanhou durante tanto tempo e que se tornou hábito em sua vida, mesmo sendo sentimentos de dor e tristeza.
Relembro um texto que escrevi intitulado “Que tal buscar o paraíso das cachoeiras” para apresentar – não uma solução para quem vive nessa “caverna”, mas para que possa ser uma luz a ser seguida e talvez buscada para uma possível saída da escuridão.
Busque dentro de si seus anseios, desejos, vontades, sonhos; aqueles que te acompanhavam na infância, adolescência, quando você era jovem ou adulto ou simplesmente aqueles que faziam seus olhos brilharem quando neles pensava. Faça o caminho em busca desses desejos esquecidos e sonhados. Ao encontrá-los, perceba que ainda existe uma fresta de luz que brilha lá na escuridão do passado e que está encoberta pelas sombras e correntes da caverna.
Mas espere! Se você os encontrou e percebeu que essa luz ainda brilha, mesmo que tímida e fraca, comece a fazer o caminho que o leve a ela. Será fácil percorrer esse caminho? Talvez não seja nada fácil. Mas lembre-se de que aquela luz era o paraíso que você sonhava e outrora desejava buscar. Então, vá! De alguma forma, tente buscá-lo. E mesmo que esse caminho seja longo, dê os primeiros passos. Tudo começa a partir de um desejo. E esse você já o tem, já encontrou.
“Simples assim?”, você pode se perguntar. E eu poderia responder: sim, simples assim. Não estou dizendo que a busca pela felicidade seja fácil, mas digo que ser feliz é simples. É buscar aquilo que me faz bem, que move meus desejos e sonhos. Ser feliz é permitir desacorrentar-me das dificuldades e sair da escuridão dos meus medos e da minha habitualidade pela tristeza. Repito: é simples, ser feliz é simples. Mas não é fácil. Mas dê seu primeiro passo. Depois desse primeiro passo em direção à luz (sonho), você perceberá que a chama se tornará maior e mais forte e passará a iluminar mais seus caminhos. Apenas dê o primeiro passo.
Heder Naves Batista
hedernaves@uol.com.br

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