O que diz o pássaro que não para de falar?
- Ananda Martins
- 18 de abr. de 2015
- 2 min de leitura

Foto: Ananda Martins
Fecho os olhos em uma estranha tentativa de descobrir o espaço. Preciso de alguns segundos ou minutos para acostumar, até perceber que o lugar ao redor acendeu em vozes. Perto de mim, amigos conversam, ouço sorrisos e começo a esboçar um de volta. Outras vozes estão distantes, não sei o que dizem, conversam com as aves e o mar. Tudo ao meu redor não para de cantar.
Abro os olhos e vejo uma cidade azul que, mesmo rodeada de mar, ganhou o nome de Rio. Nesta manhã de domingo, mirando o rio-mar, as crianças brincam de desenhar seus sonhos na areia, os pais voltam a ser namorados, a menina é fotografada enquanto eterniza sua jovem beleza. O pescador colhe, como presente das águas, um peixe, e alguém, pela primeira vez, sente a onda que trouxe o peixe lavar sua pele.
No silêncio dos movimentos calmos, talvez tenhamos encontrado, nesta cidade, algum tempo que foi o mesmo do nosso coração. Com amorosidade, notado vestígios de delicadeza. Na simplicidade de uma manhã de domingo, tenhamos talvez lembrado algum lugar abandonado dentro de nós, e enfim percebido que não somos tão infelizes quanto pensávamos. Mas continuamos a jogar perguntas para o mar...
Um menino, que perguntava enquanto desenhava em papel um pássaro, largou a folha e foi se preencher de água. Quem andava distraído pela praia viu o pássaro sair do papel, fazer cambalhotas no ar, subir, subir, esconder-se por entre as folhas de uma árvore e se pôr a cantar. O que diz o pássaro que não para de falar?
Diz mais a mim que a ele. Diz pra eu procurá-lo, descobrir a árvore de onde ele me espreita. Grita, pra que eu também me agite e transforme a vida em um grande alvoroço de cores. Talvez, quando fala baixinho, brinca comigo, me contando em sua língua, a língua dos pássaros, que, a cada vez que eu tentar me aproximar, ele vai voar. Pássaro-utopia. Ele voa e resta o silêncio.
Mas seu voo, que me ensinou que o vento abraça enquanto leva, que me ensinou a olhar o céu, me contou. Aquilo que eu procurava (o pássaro?) não estava no fim nem além da linha do mar. Está ali, em lugares distraídos no meio do caminho, ali onde se formam terceiras margens, do rio, do mar.
Ananda Martins
17.04.15

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