Dia do Trabalho: uma história partilhada
- Rodrigo Padrini
- 27 de abr. de 2015
- 3 min de leitura

Todo ano, no primeiro dia de Maio, é comemorado o Dia do Trabalho. No Brasil, assim como em diversos outros países, o dia é considerado como feriado e, a grande maioria, utiliza essa folga como uma bela oportunidade de colocar os pés pra cima e descansar o espírito.
Com origem em reinvindicações de trabalhadores norte americanos por melhores condições de trabalho em 1886 em Chicago, nos Estados Unidos, esse dia específico foi escolhido por uma série de acontecimentos. Um deles três anos mais tarde, em 1889, em Paris, na França, quando operários reunidos lutavam pela redução da jornada de trabalho, convocando anualmente manifestações no primeiro dia de maio, com objetivo de homenagear aqueles que lutaram em Chicago.
Acompanhada de manifestações marcadas por violência, mortes e prisões em 1891, também na França, a data se consolidou como dia internacional de reinvindicações por melhores condições de trabalho, sendo oficializada anos mais tarde em países europeus e, no Brasil, em meados dos anos 20 do século passado. Não por coincidência, a Consolidação das Leis de Trabalho – CLT seria anunciada em 1º de maio de 1943.
Aproveitando que história não é o meu forte, interrompo minha explicação por aqui. Uma vez por ano temos a oportunidade de lembrar lutas célebres que nos garantiram muito do que temos hoje. Relembrar as origens é sempre benéfico para contextualizarmos o presente.
Todos os dias me deparo com tarefas diferentes no ambiente de trabalho. Com algumas, concordo. De outras, discordo. Algumas realizo, outras enrolo. Fracasso diariamente na tentativa de realizar tudo que desejo, mas sou bem sucedido em coisas que nem imaginava que faria. Trabalho sozinho, mas sempre em conjunto. O trabalho é em grupo, porém individual.
Ao exercer o meu ofício carrego uma história em comum da minha profissão, realizando feitos inéditos, porém impregnados de atividades passadas. Reinvento-o adotando meu estilo pessoal.
Como diz Yves Clot (2006), psicólogo do trabalho citado por Lima (2007), nosso gênero profissional é “uma forma de rascunho social que esboça as relações dos homens entre si para agir sobre o mundo” e ainda “diz, sem o dizer, o que deve fazer em tal ou qual situação o suposto desconhecido que jamais iríamos conhecer”. Este é sempre inacabado, afinal, estamos sempre reinventando a atividade. E devemos fazê-lo.
No meu trabalho, afeto os outros e sou afetado. Fico com raiva, inseguro, orgulhoso, satisfeito, motivado, surpreso, frustrado, ora ansioso, ora tranquilo. Sou prepotente, julgo saber tudo. Noutro minuto, não sei de mais nada. Mal me acomodo, sou retirado da zona de conforto, afinal, é bom que o trabalho me afete, preocupante é quando ‘tanto faz’.
No dia que celebramos o trabalho comemoramos a vida, não muito diferentes em suas dinâmicas. No trabalho estamos inseridos em um coletivo, fonte de uma história partilhada, que nos protege de nós mesmos. Para Bendassolli (2011), “o trabalho diz respeito ao confronto do sujeito com o real, sendo o meio pelo qual ele consegue se inscrever numa obra coletiva e, ao mesmo tempo, personalizar-se” (p.71).
Há uma grande importância em retomarmos nosso poder de agir no trabalho e sermos sujeitos da ação. Para tanto, é necessário fortalecer os coletivos de trabalho, descobrir as controvérsias existentes em nossas atividades e enfrentar as divergências. O coletivo é o recurso para o desenvolvimento individual (Clot, 2006).
Não nos isolemos, tanto no trabalho, como na vida, mesmo que alguns mecanismos nos levem a isso. Nosso coletivo é fonte de uma história comum e quando ele se degenera, o desenvolvimento de nosso trabalho fica bloqueado, configurando a atividade, sobretudo, como fonte de sofrimento e adoecimento (Lima, 2007).
Cada vez me identifico mais com este referencial e não consigo enxergar meu trabalho deslocado da história, do seu coletivo e de sua origem. Com a proximidade de celebrarmos o dia do trabalho, relembremos a força do diálogo, do embate, da criação em comum e de nossos gêneros profissionais. É através de lutas, trocas e diferenças que colaboramos com a história, tornando o trabalho uma fonte de saúde, construindo assim nossa personalidade e tomando responsabilidade por nossos atos.
Referências
BENDASSOLLI, Pedro F. Mal-estar no trabalho: do sofrimento ao poder de agir in Revista Mal-estar e Subjetividade - Fortaleza – Vol. X – Nº 1 – p.63 - 98 - mar/2011.
CLOT, Y. A função psicológica do trabalho. Petrópolis: Vozes, 2006.
LIMA, Maria Elizabeth Antunes. Contribuições da Clínica da Atividade para o campo da segurança no trabalho in Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 99-107, 2007.
Wikipédia – Enciclopédia livre: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_do_Trabalhador

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