Os impactos de um mundo de redes sociais

Imagine as seguintes situações: sua amiga da faculdade está namorando, mas você fica sabendo apenas um mês depois. Na sua última reunião de amigos, um colega tirou uma foto do grupo, mas você a verá somente quando encontrá-lo novamente. Não existe a possibilidade de você ter conhecimento sobre como estão se sentindo as pessoas que você conhece sem encontrá-las ou falar com elas por telefone.

São situações mais incomuns nos dias em que vivemos do que eram antigamente? Com toda a certeza. Mas em que momento da nossa história tornou-se usual desta forma conhecer o dia-a-dia das outras pessoas de forma tão imediata? Quais os impactos psicológicos desse novo paradigma?

Com o advento da internet, conectar-se e entrar em contato com outras pessoas tornou-se mais corriqueiro. Entretanto, com sua popularização e principalmente após o surgimento dos smartphones e da criação das redes sociais, o comum hoje é estar conectado e estar em contato com as outras pessoas, ou seja, de forma instantânea e constante. Mais especificamente, as redes sociais vieram para mudar a forma com que as pessoas se relacionam. Além da conversa entre duas pessoas ou mais por meio de chats, há a possibilidade de compartilhar ideias, pensamentos, fotos e vídeos e de acompanhar também os compartilhamentos dos outros.

Esta expansão e variedade de formas pelas quais podemos nos comunicar e representar nossa imagem perante nossos amigos e conhecidos traz um mundo de facilidades. A aproximação de pessoas é uma delas, além da troca de informações e do contato com situações que podem ser divertidas e agradáveis. Por outro lado, este novo universo também pode trazer algumas situações problemáticas que, quando mal enfrentadas, tornam-se fonte de sofrimento ou agravam uma condição já existente.

É comum pacientes em atendimento que chegam à clínica narrando situações de estresse relacionadas às redes sociais. “Ela não está mais me seguindo”. “Há uma desconhecida comentando as postagens do meu namorado”. “Minha ex-namorada começou um novo relacionamento”. Em muitos casos, estes pacientes incorporam completamente as atividades on-line às suas vidas. As atualizações de status tornam-se algo central no seu cotidiano, algo sem o qual não é possível passar um fim de semana e algo que é mais importante que os contatos sociais fora das redes. Isto é percebido como algo natural e, assim, não saber o que está acontecendo com as outras pessoas ou não compartilhar o que estão fazendo ou pensando gera nestes pacientes uma ansiedade muito elevada.

Além disso, muitas vezes, as imagens que as pessoas passam na rede social são tomadas como fato, entretanto, não é possível saber realmente “como uma pessoa está se sentindo” com base nas suas atualizações on-line. As informações obtidas por meio das redes sociais podem dar a impressão de serem informações suficientes quando, na verdade, são apenas dados incompletos. Muito do que é comunicado neste ambiente nos serve apenas como uma janela, através da qual podemos, algumas vezes, ter apenas um vislumbre do que é a vida de alguém, de como se comporta ou do que gosta. É importante que estes pacientes passem a ter consciência de que isto não significa que esta fotografia seja a realidade em si e, por mais que não seja uma inverdade, também não significa que seja a verdade completa.

Devemos apontar ainda que o que o indivíduo divulga nas redes sociais passa pelo seu próprio crivo e é compartilhado de livre e espontânea vontade. Isto pode parecer algo trivial, mas na verdade implica uma intenção, um motivo por trás de cada informação. Nem sempre somos capazes de entender completamente quais os objetivos da pessoa com cada compartilhamento de informação. Contudo, não estar ciente disso gera angústias por vezes extremas em pacientes que procuram atribuir intenção às informações. “Ele compartilhou esta foto para me atingir”. “Ela queria se gabar do seu novo emprego”. “Ela está fingindo estar feliz desde o término do namoro”.

Estas afirmações são diferentes das primeiras, listadas acima, pois enquanto aquelas descrevem um fato que ocorreu nas redes sociais, as últimas são interpretações de um fato ou atividade.

Tais interpretações são baseadas nas experiências de vida e expectativas do próprio paciente e nem sempre ele consegue perceber esta diferença, o que causa grande sofrimento em determinadas situações.

São muito abrangentes os impactos de vivermos em uma época em que os contatos com outras pessoas se tornaram mais constantes e também menos presenciais. São modificadas as formas como pensamos, como nos relacionamos com o mundo, com a expressão de nossos sentimentos, como visualizamos as pessoas de nossos diferentes círculos, etc. Na medida em que as possibilidades de relacionamentos e formas de se relacionar são expandidas, também abrimos uma porta que pode ser geradora de angústia, que pode dificultar esse mesmo relacionamento ou prejudicar a nós mesmos no processo. Os impactos das redes sociais são determinados pelo uso que se faz dessas e pelas formas com que cada um lida com as mais diversas situações que vão aparecendo neste contexto, que ainda é recente e sobre o qual ainda temos muito a conhecer.

Lidar com este novo universo pode nem sempre ser simples ou fácil. Mas pode trazer resultados importantes e fascinantes.

*Joana Vartanian é psicóloga formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), atuando com Terapia Comportamental. Possui atividades de aperfeiçoamentos pela UNESP, Universidade de São Paulo (USP) e Hospital do Coração (HCor) e realiza atendimentos direcionados a orientação de pais, Treinamento de Habilidades Sociais, terapia de casal e atendimentos em grupo e individuais de adolescentes e adultos.

E-mail: joana.vartanian@yahoo.com.br

#joanavartanian