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Je suis Charlie

  • Foto do escritor: redepsicoterapias
    redepsicoterapias
  • 5 de fev. de 2015
  • 3 min de leitura

Cheguei à sala de casa correndo e após ouvir “morte na redação do Charlie Hebdo” sentei inquieto no sofá. A cena do policial ferido e deitado no chão, em seguida covardemente assassinado parecia o começo... Eis que ouvi mais alguns disparos, desta vez pelas palavras do repórter: “Ao menos doze pessoas mortas em atentado contra a redação da revista francesa Charlie Hebdo”.


O fato de também trabalhar na Secretaria de Cultura de São Bernardo do Campo e a proximidade com os quadrinhos fez com que ressoasse a familiaridade ao ouvir o nome de um dos mortos. Trata-se de Georges Wolinski, cartunista que começou seu protagonismo artístico em meio à efervescência de 1968, e era considerado por muitos uma referência, pois aliava seus traços irreverentes a uma sólida consciência e liberdade política.


O atentado terrorista à redação do Hebdo é um acontecimento injustificável que nos coloca, novamente, de frente a diversos questionamentos. Do fundamentalismo religioso até as recentes manifestações xenófobas na Europa (encabeçadas pela disseminação da islamofobia) temos aqui a relação significativa entre angústia e sintoma. Experiências traumáticas como preconceitos e intolerância religiosa (principalmente contra os imigrantes africanos), somadas com o bombardeio midiático do discurso ultra direitista da Europa como nacionalismo excessivo, o endurecimento das políticas e leis anti-imigração e o ódio generalizado a tudo aquilo que não corresponda ao padrão “europeu” só vem a engrossar o caldo desumano do conflito e da angústia, que pede por uma descarga de elaboração política e afetiva o mais rápido possível. A distorção do discurso religioso, confundida com a paranóia e o egoísmo humano, para sanar uma perversão política. Essa distorção é falha e acarretou na catastrófica manchete que seguiu com doze mortes.


Como já dissemos acima, nada justifica uma ação de violência e covardia como foi o atentado. Entretanto, este é o momento de refletir sobre as temáticas que se abriram após o trágico episódio. Uma delas é a urgente necessidade de adotar um sistema de orientação que permita ao homem compreender o mundo de maneira interligada ao seu coração e a natureza. O capitalismo e sua voracidade acumulativa estimulou o homem ao vazio psíquico, ao desespero e ao desencanto do mundo. O exercício de alteridade é condicionado pelo ódio às diferenças e pela lógica da egomania das classes que oprimem e dilaceram a convivência no mundo.


As religiões hoje, dificilmente operam aquilo que Carl Jung chama de “contrapeso à massificação” caindo na espetacularização de seus cultos e esvaziamento dos símbolos que gerenciam o equilíbrio psíquico do homem moderno. A atitude religiosa e espiritualizante dissolve o sentimento de solidão básica e desenvolve uma identidade de cooperação e pertença em relação à vida e a tudo que vive, superando os imperativos estreitos do ego e das paixões e cobiças, fugindo dos excessos, inflações e demais riscos do fundamentalismo religioso e idolatria.


As vidas ceifadas não serão trazidas de volta, mas como aprendemos no Eclesiastes (IX,4) “enquanto um homem permanece entre os vivos, há esperança”.

Este é o momento de refletir. Refletir e solidarizar. Je suis Charlie.


*Thiago Domingues é natural de São Bernardo do Campo-SP. Funcionário público trabalha na Secretaria de Cultura de sua cidade com o desenvolvimento de políticas de leitura. Psicólogo e poeta, acredita e trabalha em prol da emancipação humana pelo cultivo da força da palavra e nos demais acompanhamentos psíquicos da vida humana como a beleza, o cuidado, a cooperação e a poiesis para um desenvolvimento pleno das capacidades existenciais. Escreve às quintas-feiras nesta sessão sobre assuntos relacionados ao autoconhecimento, desenvolvimento e reflexão pessoal.

 
 
 

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