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Sebastião Salgado, as imagens de um tempo e o amanhã

  • Thiago Domingues
  • 30 de abr. de 2015
  • 3 min de leitura

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“ Já nem se lembram

Que existe um Brejo da Cruz

Quer eram crianças

E que comiam luz”- Brejo da Cruz, Chico Buarque.

Não era possível respirar. A angústia cerrava a garganta e os olhos comprimiam-se como um impulso à autodefesa (ingênua) de amenizar as imagens, filhas da crueldade. Há tempos não vivia, em uma sala de cinema, a performances de tantas e tamanhas incertezas. A valsa das nossas condições mais destrutivas dançava feroz à minha frente.


Não há como não sair incólume dos primeiros momentos do filme “Sal da terra”, obra elevada à grandeza por Wim Wenders.


Aos minutos que seguiam do início do filme, lembrei-me do niilista Emil Cioram: “A lucidez torna o homem incapacitado para o amor”. A panaceia da razão iluminista nos levou ao limite do caos. A alma foi apartada do mundo, já dizia Jung. As utopias estão em colapso, registrou Salgado.


O fotógrafo mineiro, em seu filme e fotografias, nos apresenta a história dos tempos modernos: a irracionalidade do “consumo logo existo”, a covardia das guerras, a degradação ambiental e o discurso falacioso do progresso tecnológico. De enquadramento preciso, ele modula a luz como um arquiteto gótico, para delinear sua preocupação maior: o sublime, o humano, o destino das nossas transformações.

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Mineiro e economista por formação acadêmica, Salgado percorreu as condições alarmantes do ciclo guerra-fome no continente africano, em especial na Etiópia e Sudão. Com a potência investigativa de um foto jornalista, lugar de onde iniciou sua carreira, registrou o conflito de terras e a urbanização predatória na América Latina. Seguiu pela Europa e Ásia com lentes que captam e ampliam o interior de uma sociedade.


As lentes de Salgado detalham o esgotamento do corpo em condições precárias de trabalho, as solidões compartilhadas em longas jornadas por “um mundo melhor” e o despedaçamento destas esperanças pelo caminho. A racionalização da morte passa a ser elemento fundamental para a preservação e continuação da vida, eis o que vemos nos campos de refugiados. Os pobres são aqueles impelidos às condições degradantes de vida, empurrados para a margem das sociedades mundiais. São alienados porque estão fora de qualquer participação política, são excluídos porque sofrem a face perversa do capitalismo global. Eles são a contradição do discurso tecnicista e positivista, apartados do “fazer história”.

O filme segue com uma composição formal impecável. Com a captação de jogos estéticos de rara e sublime beleza nos convida a interagir neste dinamismo das antíteses para uma compreensão total dos sentidos da obra: luz e sombra, frio e calor, silêncio e ruídos, morte e renascimento.


A sequência de imagens faz com que tudo pareça macabro e sem possibilidade de renovação, mas o filme ressurge com um colorido ímpar.


O embate com nossas sombras coletivas, presente na narrativa épica de Salgado e Wenders, não aparece como simples condução à catarse. Ao buscar a superação deste movimento, nos convida à tomada de consciência da irracionalidade das formas de vida e relação que temos experimentado até aqui. É a possibilidade da transformação subjetiva pela arte, a comoção individual que antecede a união coletiva.


Se a “dor é incomunicável”, como certa vez disse Drummond, temos em Salgado a transformação destes instantes em eternidade, como se ele apontasse os caminhos daquilo que não pode, em hipótese alguma, voltar a acontecer. A dor dos refugiados, da natureza que agoniza e dos excluídos não pode ser amenizada, é passado. Mas podemos encontrar novos sentidos para o amanhã, já que o terror foi alertado em imagens, para podemos, enfim, criar novos destinos para a nossa passagem sobre a Terra.


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