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Tempo para parar

  • Thiago Domingues
  • 23 de jul. de 2015
  • 3 min de leitura

O tempo nas sociedades industriais, como a nossa, é algo que merece cada vez mais uma análise atenta. A partir da orientação mercantil fizemos do tempo um instrumento a serviço da máquina econômica que penetra os poros da subjetividade moderna. Se “time is money” a velocidade é o que nos separa do sucesso ou do fracasso.


Para a validação deste movimento obsessivo a rotina surge para alimentar a indiferença (conosco e com o mundo) e passamos a ser definidos a partir da nossa produtividade. É na rotina que passamos a nos preocupar com a eficiência, a competitividade e outros valores que nos afastam dos objetivos essenciais da vida humana.


Nascemos com a exigência de adaptação ao mercado. Se as cidades “não param”, somos impelidos à irracionalidade deste movimento, e com frequência a culpa aparece como um convidado intruso nos alertando da necessidade de parar.


As ruas perderam as almas para as sedes de grandes corporações. O cimento e o concreto armado dão a tônica de relações apáticas, sem vitalidade, onde a maior obstinação é a vigilância, a preocupação e um tempinho para acessar as redes sociais. No escritório, a organização de trabalho permeia nossas subjetividades fervilhando seriação e despersonalização, e o companheirismo, que só existe na “hora do cafezinho”, é o intervalo para piadas de clichês ideológicos que rebaixam e estigmatizam, como um mecanismo de defesa desta condição onipresente de valor comercial latente.


Se os trabalhadores não podem reclamar do macarrão frio ou do “suco” de uva em pó servido a semana toda, devem se sentir felizes, porque pelo menos uma vez na semana, podem usar o “dress down day”, o famoso jeans com tênis. A liberdade vem às sextas-feiras.


A ilusão (ou a alienação) a um jogo narcísico faz com que nos sintamos indispensáveis à empresa esticando ao máximo nossas jornadas ou levando trabalho para fazer em casa. Neste teatro sacrifica-se o tempo livre e a poesia dos grandes momentos da vida, negligenciando a festa dos filhos, o aniversário de casamento e o futebol com os amigos.


Com tudo isso acontecendo, não é raro encenarmos o “cotidiano” tão bem cantado por Chico Buarque. Agimos como um ator sem escalas ou pausas. Ao tirarmos a máscara, ou o uniforme da empresa, eles estavam colados, parafraseando Fernando Pessoa.


É refletindo sobre isso que Domenico de Masi escreveu uma brilhante obra denominada “O futuro do trabalho: fadiga e ócio na sociedade pós-industrial”. De Masi é um sociólogo sensível que problematiza nesta obra a falência do modelo industrial nas sociedades ocidentais e novas possibilidades para o uso do tempo. A importância da criatividade e daquilo que ele chama de “ócio criativo” e soluções para o desemprego também são expostas nas linhas de sua obra, já que a partir da redução da jornada de trabalho, novos postos de trabalho poderiam ser criados.


Neste momento do texto não nos cabem críticas ao sociólogo italiano, mas sabemos que elas existem. Uma delas é o fato de estar em sua obra a tendência a um “capitalismo humano” ou desconsiderar mudanças políticas de estruturas mais profundas. Entretanto, a educação para o tempo e o convite ao “ócio criativo” que Domenico De Masi nos faz é o primeiro passo para a formulação de projetos pessoais e profissionais que estejam alinhados com o respeito ao ser humano e ao meio ambiente, desenvolvendo a potência criativa e outras necessidades humanas que poderão nos levar para a auto-realização e a incorporação de práticas culturais de emancipação, solidariedade, beleza e justiça.


 
 
 

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